terça-feira, 16 de janeiro de 2018

ESTILÍSTICA E POÉTICA (VERSIFICAÇÃO) CAPÍTULO 34



 




A versificação estabelece normas para a contagem das sílabas de um verso. É uma técnica e, por isso, não está associada à noção de poesia.
A versificação estabelece normas para a contagem das sílabas de um verso. É uma técnica e, por isso, não está associada à noção de poesia.

A versificação ou metrificação é um recurso estilístico utilizado por muitos poetas, cuja existência não está necessariamente relacionada com a noção de poesia. Consiste na técnica de fazer versos, dedicando-se ao estudo dos metros, pés, acento e ritmo, além de estabelecer normas para a contagem das sílabas de um verso.

Grandes poetas, como Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, não se dedicaram com muita frequência ao estudo da métrica, no entanto, não deixaram de ser grandes nomes da literatura brasileira. Muitos se dedicaram à versificação sem nunca terem sido considerados como nomes relevantes em nossa produção literária. Na literatura brasileira, Olavo Bilac e Guimarães Passos escreveram o Tratado de versificação, tendo Bilac ficado conhecido por defender ardorosamente a métrica, produzindo diversos poemas dedicados sobretudo aos elementos concernentes à versificação. Sendo assim, não é pertinente que a versificação seja confundida com poesia: esta é capaz de despertar encantamento estético e está intrinsecamente relacionada com o campo das sensações. Pode estar presente em diversas manifestações artísticas e até mesmo no cotidiano do homem. A versificação está para o poema, pois o poema refere-se à forma, ou seja, aos versos, estrofes e sua disposição.

O ritmo poético, noção elementar do conceito de versificação, tem como principal característica a repetição e é assegurado pela utilização dos seguintes elementos:

1) Número fixo de sílabas: difere em muito da contagem de sílabas proposta pela norma gramatical. Na recitação, o que é relevante é a realidade auditiva, e não a representação escrita da palavra;

2) distribuição das sílabas fortes (ou tônicas) e fracas (ou átonas);

3) cesura: pausa interna que pode ocorrer em virtude da necessidade de uma interrupção sintática ou pela necessidade de destacar algum vocábulo;

4) rima: igualdade ou semelhança de sons na terminação das palavras a partir da última vogal tônica. Pode ser classificada como perfeita, quando a identidade dos fonemas finais é completa, ou imperfeita, quando essa mesma identidade fonética não é completa;

5) aliteração: está relacionada com o desejo de harmonia imitativa, repetindo fonemas em palavras simetricamente dispostas. Observe a repetição do fonema /v/ no fragmento do poema “Violões que choram”, do poeta simbolista Cruz e Sousa:

“Vozes veladas, veludosas vozes,

Volúpias dos violões, vozes veladas,

Vagam nos velhos vórtices velozes

Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.”

6) encadeamento: repetição de fonemas, palavras, expressões ou um verso inteiro simetricamente disposta;

7) paralelismo: consiste na repetição simétrica das palavras dentro de seu conteúdo semântico, cuja principal intenção é tornar o texto mais elaborado e requintado. Observe a ocorrência do paralelismo no fragmento do poema “Baladas Românticas”, de Olavo Bilac:

Como era verde este caminho!
Que calmo o céu! que verde o mar!
E, entre festões, de ninho em ninho,
A Primavera a gorjear!...
Inda me exalta, como um vinho,
Esta fatal recordação!
Secou a flor, ficou o espinho...
Como me pesa a solidão!

Carlos Drummond de Andrade certa vez afirmou sua identificação e filiação ao movimento modernista brasileiro que ganhou voz sobretudo em São Paulo, no ano de 1922. Os poetas modernistas prezavam maior liberdade à criação poética e uma forte ruptura com o modelo literário vigente, o Parnasianismo. Contudo, já em sua maturidade como poeta, Drummond afirmou que a "liberdade que não é absoluta, pois a poesia pode prescindir da métrica regular e do apoio da rima, porém não pode fugir ao ritmo, essencial à sua natureza”.

“Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, tão fortes
como o javali.
Não me julgo louco.
Se o fosse, teria
poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio,
apareço e tento
apanhar algumas
para meu sustento
num dia de vida.
Deixam-se enlaçar,
tontas à carícia
e súbito fogem
e não há ameaça
e nem 3 há sevícia
que as traga de novo
ao centro da praça. (...)”

(Fragmento do poema “O lutador”, de Carlos Drummond de Andrade)



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