terça-feira, 16 de janeiro de 2018

ESTILÍSTICA E POÉTICA (FIGURAS DE LINGUAGEM) CAPÍTULO 33


Figuras de linguagem são recursos de expressão, utilizados por um escritor, com o objetivo de ampliar o significado de um texto literário ou também para suprir a falta de termos adequados em uma frase. É um recurso que dá uma grande expressividade ao texto literário.
As mais comuns são: metáfora, comparação, metonímia, antítese, paradoxo, personificação (ou prosopopeia), hipérbole, eufemismo, ironia, elipse, zeugma, pleonasmo, polissíndeto, assíndeto, onomatopeia, anáfora, sinestesia, gradação e aliteração.
Metáfora
A metáfora é um tipo de comparação, mas sem os termos comparativos (tal comocomosão comotanto quanto, etc). Na metáfora, a comparação entre dois elementos está implícita, trazendo uma relação de semelhança entre eles. Exemplo:
Tempo é dinheiro.
Percebemos neste exemplo a relação implícita, onde o tempo é tão valoroso quanto o dinheiro, por isso ele é colocado como semelhante à moeda.
Comparação
A comparação consiste na aproximação entre dois objetos por meio de uma característica semelhante entre eles, dando a um as características do outro. Difere da metáfora porque possui, obrigatoriamente, termos comparativos. Em suma, é uma comparação explícita. Exemplo:
Tempo é como dinheiro.
Neste exemplo vemos o principal definidor de uma comparação: a palavra como traz explicitamente a ideia de que o tempo é valoroso como o dinheiro.
Metonímia
É a substituição de uma palavra por outra sendo que, entre ambas, há uma proximidade de sentidos, uma relação de implicação. Exemplos:
·         Não leu Machado de Assis.
·         Não leu a obra de Machado de Assis.
Vemos no exemplo que a obra de Machado de Assis foi substituída só pelo nome do autor. A metonímia consiste nessa substituição de palavras, dando o mesmo sentido a uma frase. A seguir, outro exemplo que reforça essa substituição:
·         cozinha italiana é maravilhosa!
·         comida italiana é ótima.
Antítese
A antítese consiste no uso de palavras, expressões ou ideias que se opõem. Exemplo:
Soneto da Separação
De repente do riso fez-se o pranto

Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

Vinícius de Moraes
Neste soneto vemos claramente a antítese por trás da temática da separação amorosa: o que antes era riso trouxe lágrimas com a separação; as bocas unidas pelo beijo no amor se separam como a espuma que se espalha e se dissolve. A oposição de sentimentos e atos forma claramente a antítese.
Paradoxo
Paradoxo é a presença de elementos que se anulam numa frase, trazendo à tona uma situação que foge da lógica. Exemplo:
Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

Luís de Camões
A situação do paradoxo aqui é clara: os elementos marcados se anulam, trazendo uma série de questionamentos. Como pode uma ferida, algo que causa dor física, não ser sentida? Como o contentamento, que causa felicidade, pode ser descontente? Como a dor pode não doer? Vemos claramente a fuga da lógica.
Personificação (ou prosopopeia)
A personificação, também chamada prosopopeia, consiste na atribuição de características humanas, como sentimentos, linguagem humana e ações do homem, a coisas não-humanas. Exemplo:
Congresso Internacional do Medo
Provisoriamente não cantaremos o amor,

que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro.

Carlos Drummond de Andrade
Neste exemplo, o medo, uma sensação, é transformado em pai e companheiro, algo que só é atribuído a um ser humano.
Hipérbole
Esta figura de linguagem consiste no emprego de palavras que expressam uma ideia de exagero de forma intencional. Exemplo:
Ela chorou rios de lágrimas.
Chorar rios remete a um choro contínuo, exagerado e o termo rios vem para enfatizar a ideia de que foi um choro intenso.
Eufemismo
O eufemismo ocorre quando utilizamos palavras ou expressões que atenuam e substituem outras que produzem um efeito desagradável e chocante. Exemplos:
·         Faltei com a verdade ao dizer que fui à igreja.
·         Menti ao dizer que fui à igreja.
A expressão e o impacto negativo que a palavra menti traz é ""suavizado" ao dizer que "faltei com a verdade".
Ironia
É a expressão de ideias com significado oposto ao que se realmente pensa ou acredita. Exemplo:
Moça linda, bem tratada,

Três séculos de família,
Burra como uma porta:
Um amor!

Mário de Andrade
O trecho é o exemplo claro de ironia: a moça é descrita como, bonita e bem tratada, tradicional, conservadora (é de família) e burra. O destaque em "um amor", apoiando-se na descrição da moça, mostra que ela, ao contrário de ser esse "amor de pessoa", é, na verdade, alguém sem atrativos, sem graça.
Elipse
Temos elipse quando, em um texto, alguns elementos são omitidos sem ocasionar a perda de sentido, uma vez que as palavras omitidas ficam subentendidas através do contexto. Exemplos:
·         Ela está passando mal! Depressa, um médico!
·         Ela está passando mal! Depressa, chamem um médico!
Na primeira frase temos a elipse ao vermos que a palavra chamem está escondida. Não é necessário colocá-la e não há perda de sentido, porque mesmo sem ela entendemos que é necessário chamar um médico depressa porque ela está passando mal.
Zeugma
É parecido com a elipse, no entanto, só podemos identificar desta forma esta figura de linguagem quando há omissão de algo que já foi expresso no texto. Sabemos que o termo foi omitido porque já foi apresentado. Exemplo:
Canção do Exílio
Nosso céu tem mais estrelas

Nossas várzeas tem mais flores
Nossos bosques tem mais vida
Nossa vida mais amores

Gonçalves Dias
Neste trecho vemos a omissão da palavra tem no último trecho. Não foi necessário o emprego dessa palavra para entender que a vida tem mais amores, pois já houve repetição da palavra nos outros versos.
Pleonasmo
Repetição de uma ideia por meio de outras palavras. É utilizado como forma de ênfase e, além de ser figura de linguagem, é classificada como vício. A diferença entre a figura de linguagem e o vício de linguagem é simples: para ser figura de linguagem, o pleonasmo vem de forma intencional, para dar mais expressividade no texto, enquanto no vício vem como uma repetição não intencional e desnecessária. Exemplo:
Quando hoje acordei, ainda fazia escuro

(Embora a manhã já estivesse avançada).
Chovia.
Chovia uma triste chuva de resignação
Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite.

Manuel Bandeira
A repetição proposital de Manuel Bandeira ao dizer que "chovia uma chuva" intensifica a ideia de que estava chovendo.
Polissíndeto
Consiste na repetição de conjunções para garantir um texto mais expressivo. Exemplo:
O olhar para trás
E o olhar estaria ansioso esperando

E a cabeça ao sabor da mágoa balançada
E o coração fugindo e o coração voltando
E os minutos passando e os minutos passando...

Vinícius de Moraes
A conjunção e vem para caracterizar o polissíndeto, trazendo ações e sensações que ocorrem de forma contínua e rápida.
Assíndeto
O assíndeto ocorre quando há omissão das conjunções. Exemplo:
Morte no avião
Acordo para a morte.

Barbeio-me, visto-me, calço-me.

Carlos Drummond de Andrade
A conjunção geralmente é substituída por vírgula, como no exemplo.
Onomatopeia
Temos onomatopeia quando há o uso de palavras que reproduzem os sons de seres vivos e objetos. É mais comum em história em quadrinhos.
Anáfora
Consiste na repetição de palavras ou expressões com o objetivo de enfatizar uma ideia. Exemplo:
Elegia Desesperada
Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres

Que ninguém mais merece tanto amor e amizade
Que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade
Que ninguém mais precisa tanto de alegria e serenidade

Vinícius de Moraes
Sinestesia
A sinestesia traz textos que expressam as sensações humanas, com o cruzamento de palavras referentes aos cinco sentidos. Exemplo:
Recordação
Agora, o cheiro áspero das flores

leva-me os olhos por dentro de suas pétalas

Cecília Meireles
Aqui, vamos uma característica do olfato (cheiro) misturada com outra do tato (áspero).
Gradação
Nesta figura as ideias aparecem de forma crescente ou decrescente dentro de um texto. Exemplo:
Meia noite em ponto em Xangai
A mulher foi-se encolhendo, agarrada aos braços da poltrona. Cravou o olhar esgazeado no retângulo negro do céu. Encolheu-se mais ainda, cruzando os braços. Limpou as mãos pegajosas no brocado da bata. Susteve a respiração.
Lygia Fagundes Telles
Aqui a gradação crescente vem trazendo uma ideia da sensação do medo que vai aumentando.
Aliteração
Consiste na repetição de consoantes em uma sequência de palavras, trazendo um texto com um efeito sonoro. Confira um exemplo no trecho da música Chove Chuva de Jorge Ben Jor:
Chove, chuva, chove sem parar
Neste caso, o ch repetido vem para dar a sonoridade da chuva, além de dar ritmo à música de Jorge Ben Jor.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário.

Postagem em destaque

VALORIZA QUEM TEM

  AVIL   –   ACADEMIA VIRTUAL INTERNACIONAL DE LITERATURA Acadêmico Imortal: José Carlos de Arruda Cadeira: 01 Patrono: J. G. de Araúj...