sábado, 31 de dezembro de 2016

JORNADA DE LÍNGUA PORTUGUESA EM MAPUTO


9.as Jornadas da Língua Portuguesa 2017

Língua e Literacia(s) no Século XXI

Maputo, 4 e 5 de maio de 2017



As 9.as Jornadas da Língua Portuguesa, organizadas pela rede do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua em Moçambique, em parceria com a Universidade Eduardo Mondlane e a Universidade Pedagógica, pretendem abrir um espaço de partilha e de divulgação de trabalhos de investigação, produzidos na área do ensino e da aprendizagem da língua portuguesa e do desenvolvimento da(s) literacia(s).

Este encontro académico tem como objetivo geral desenvolver uma cultura de investigação em torno do ensino e da aprendizagem da língua portuguesa que desenvolva competências de literacia dos estudantes. Constituem objetivos específicos destas Jornadas: (i) promover a investigação sobre as áreas do ensino da língua e das literaturas em língua portuguesa; (ii) divulgar boas práticas de ensino da língua, da linguística e da literatura, com resultados concretos no desenvolvimento das competências de literacia dos estudantes; e (iii) apresentar trabalhos sobre a utilização das tecnologias aplicadas ao desenvolvimento das literacias em língua portuguesa.
Eixos temáticos
De acordo com o tema geral das 9.as Jornadas das Língua Portuguesa: Língua e Literacia(s) no Século XXI e os objetivos referidos anteriormente, a apresentação das comunicações e dos pósteres articulam-se em torno dos seguintes eixos:
  • Língua Portuguesa: Investigação e Ensino
  • Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e Desenvolvimento da(s) Literacia(s)
  • Formação de Professores de Português (L1, L2 e LE)
  • Literaturas em Língua Portuguesa e Didática da Literatura

As 9as Jornadas da Língua Portuguesa serão organizadas em sessões plenárias e paralelas. As sessões plenárias têm como objetivo a apresentação de conferências e contam com a presença de todos os participantes. Nas sessões paralelas serão apresentadas as comunicações, podendo os participantes escolher livremente a qual querem assistir. Para além das conferências e das comunicações, haverá um espaço de exposição dos pósteres.
A língua das Jornadas é o Português.
Submissão de resumos ou pósteres
As propostas para apresentação dos resumos das comunicações ou dos pósteres, deverão ser submetidos até 13 de fevereiro de 2017 para o seguinte endereço de correio eletrónico jornadaslp2017@gmail.com. A comunicação da aceitação das propostas de resumos e dos pósteres será enviada até ao dia 13 de março de 2017.

Comissão Científica

Carlos Gouveia ― Universidade de Lisboa
Fernando Albuquerque Costa ― Universidade de Lisboa - Instituto de Educação
Gregório Firmino ― Universidade Eduardo Mondlane
Gilberto Matusse ― Universidade Eduardo Mondlane
Perpétua Gonçalves ― Universidade Eduardo Mondlane
Teresa Manjate ― Universidade Eduardo Mondlane
Hildizina Dias ― Universidade Pedagógica
Ana Catarina Monteiro ― Camões Instituto da Cooperação e da Língua, Portugal e Universidade Pedagógica, Nampula
Conceição Siopa ― Camões Instituto da Cooperação e da Língua, Portugal e Universidade Eduardo Mondlane

José António Marques ― Camões Instituto da Cooperação e da Língua, Portugal e Universidade Pedagógica, Maputo
Mónica Bastos ― Camões Instituto da Cooperação e da Língua, Portugal e Universidade Pedagógica, Beira
Joana Martins ― Camões Instituto da Cooperação e da Língua, Portugal e Universidade da Suazilândia


Datas Importantes

13/02/2017: Data limite de envio de propostas
13/03/2017: Comunicação das propostas aceites
04 e 05/05/2017: 9. as Jornadas da Língua Portuguesa (Maputo)
30/09/2017: Envio do texto completo em formato de artigo, para posterior publicação


Contacto

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

A MODERNIDADE DA GRAMÁTICA HISTÓRICA




Manoel Pinto Ribeiro (UERJ/CEUAM/ABF)
“ULTIMA FLOR DO LÁCIO, INCULTA E BELA
ÉS, A UM TEMPO, ESPLENDOR E SEPULTURA...”
(Olavo Bilac. Língua Portuguesa, Tarde).
Apud Coleção Nossos Clássicos, Agir, 1959, p. 86)

A verdade deste poema de Olavo Bilac deverá ser questionada por nosso tema desta mesa-redonda, que trata da importância do estudo da gramática histórica, ou melhor, do estudo diacrônico da língua portuguesa que, infelizmente, vem sendo desprezado em nossas universidades. As cargas horárias estão reduzidas, num flagrante desinteresse pela matéria. Trata-se de uma atitude incompreensível e radical que acarreta um despreparo de nossos graduandos em Letras. Certas tendências ou modismos no ensino universitário trazem, como conseqüência, uma visão deformada do fenômeno linguístico em toda a sua extensão. Pretendemos, nesta mesa-redonda, demonstrar que a história da língua se torna extremamente agradável, longe, portanto, de ser um assunto que traria enfado ao estudante.
Por outro lado, não se pode apenas pensar em assuntos ou matérias que tragam prazer, estético ou não, ao futuro professor. Deve-se, antes de tudo, pensar no conhecimento científico e global daquele que se forma em nosso curso.
O estudo da língua, em qualquer época, deve ser visto como de uma verdadeira religião, por isso poderíamos, com palavras do escritor Francisco de Castro, afirmar que o “esplendor da língua portuguesa desvia-se da caducidade universal e sobrenada aos destroços dos séculos e à subversão das idéias e sistemas”
Celso Cunha e Wilton Cardoso, em Estilística e gramática histórica, da Tempo Brasileiro, 1978, p. 8, dizem que, “na medida em que se vai fixando a noção de que a língua é a construção de um sistema particular de expressão, impõe-se concomitantemente ao professor o dever de ensinar ao aluno que ela é, ao mesmo tempo, uma herança histórica, cujo pecúlio fundamental lhe cabe resguardar”.
A gramática histórica vai estudar a diacronia sob dois aspectos: primeiroa história externa da língua procura revelar todas as conquistas dos romanos, que levaram à constituição, por meio de lutas sangrentas, do chamado Império Romano, principalmente com os territórios da Hispânia (Portugal e Espanha de hoje), da Gália (atual França), da Itália e Dácia (Romênia atual), todas integradas na unidade imperial até o século V, depois de Cristo, durante o apogeu dos latinos; segundo: história interna - a que se ocupa da descrição do processo evolutivo a que se submeteram os fonemas, a forma e o significado dos vocábulos e, também, os tipos de construção sintática que foram adotados em cada língua derivada do latim vulgar.
Cabe esclarecer que todas as línguas possuem várias modalidades ou usos, que comumente chamamos de registros, que costumam ser: o literário, o formal, o informal ou coloquial e o vulgar. Com o latim acontecia o mesmo, pois o uso literário era restrito aos escritores principalmente. No dia-a-dia predominava o coloquial e, nas camadas mais pobres ou afastadas, o falar vulgar: língua corrente e comum. Dessa língua há poucos registros de escritores de limitada cultura ou de outros que tiveram como finalidade uma circulação maior entre as camadas mais humildes; alguns procuravam retratar os personagens rústicos, conservando-lhes a linguagem típica. O Apendix Probi, por exemplo, apresentava uma listagem de palavras em que aparecia a forma incorreta ao lado da forma correta: O propósito de nosso trabalho é, porém, revelar a contribuição pré-romana e latina para o léxico do português.
Sabe-se que o latim vulgar, transportado para a Península Ibérica, se converteu na língua de habitantes que até então falavam outra língua. Havia uma indefinida mescla ibérica com elementos bascos, célticos, gregos, fenícios ou cartagineses.
Quando um povo se torna vencedor e impõe a sua língua, o povo vencido deixa uma influência residual no idioma sobrevivente. A esses elementos desses povos vencidos que vão ser absorvidos chamamos de substrato. São:
1. Elemento ibérico - contribuição pouco numerosa, com origem duvidosa, provavelmente vindo a maioria do basco: abóbora, arroio, baía, balsa, barro, bezerro, bizarro, cama, esquerdo, garra, louça, manteiga, manto, modorra, nêspera, páramo, sapo, sarna, seara, veiga;
2. Elemento céltico - menos significativo, pois muitos vocábulos já se haviam infiltrado no latim por volta do século IV a.C, nas lutas dos romanos com os gauleses da alta Itália. Porém, antes da ocupação românica, na Península Ibérica, a Galiza e o Norte de Portugal já se tinham convertido em centro de cultura céltica. Alguns exemplos: bico, brio, cabana, caminho, camisa, carpinteiro, carro, cerveja, duna, gato, lança, légua, peça, touca, vassalo, etc. Topônimos: Bragança, Lima, Penacova, Penafiel e Coimbra, de Conimbriga, cuja terminação - briga, que significa “altura”, “castelo”, é um elemento céltico.
3. Elemento grego - é bem complexa a contribuição grega ao substrato peninsular. Costumam citar duas fontes pré-românicas: a primeira aparece na colonização grega, no seu domínio na Península Ibérica; a segunda surge como conseqüência da propagação do cristianismo. No primeiro caso, as palavras se confundiram com as que os romanos utilizaram no seu vocabulário ou se perderam; no segundo, é difícil saber se as palavras do aliciamento cristão já não haviam sido incorporadas antes ao latim, por igual razão. Citam-se: bolsa, corda, caixa, ermo, golfo, gruta, órfão, tio, ou anjo, bispo, crisma, diabo, esmola, igreja, mosteiro, dentre outras.
4. Elemento fenício - por meio dos navegadores e depois com as colônias cartaginesas, os fenícios deixaram poucos vestígios de sua língua, como o substantivo saco. Dos cartagineses ou púnicos, mencionam-se mapa, malha (cabana) e mata, todos com origem nebulosa, como o substantivo barca, que parecia de étimo fenício e que deve originar-se do latim.

OS ELEMENTOS LATINOS - O fundo românico
O latim introduzido na Península Ibérica vai introduzir a maior parte da camada inicial do vocabulário português. Aqui aparece o vocabulário fundamental; elementos designativos de partes do corpo, parentesco, nomes de animais, de substâncias, de qualidades, verbos que expressam atos essenciais à vida: manus (mão), pedem (pé); pater (pai), mater (mãe), filium (filho); canis (cão), capra (cabra); aqua (água), panis (pão); bonus ( bom), malus (mau); comedere (comer), bibere (beber)...
Mas havia palavras de uso popular que na língua culta apresentavam outra forma. Vulgarismos como apprendere, bellus, bibere, bucca eram eram substituídos por discere, pulcher, potare, os.
Neste ponto, desejamos mostrar toda a influência do vocabulário latino no léxico, seja ele produto de transformações fonéticas (camada popular), seja ainda fruto de origem erudita, ou seja, buscou o vocábulo diretamente do latim clássico, para enriquecer o contingente de palavras à disposição do falante.
Assim temos: 1) integru > inteiro (palavra popular: a que sofre transformações fonéticas): houve vocalização do /g/ e o /u/ breve deu o. E a forma “integro”? É um empréstimo erudito trazido para o português com a mesma prosódia do latim clássico: é um proparoxítono. Sabemos que, na transformação do latim vulgar para o português, todos os proparoxítonos desapareceram. A sua inclusão na pauta prosódica de nossa língua se deve aos empréstimos eruditos. 2) stella > estrela: além do aumento de fonema no início, que chamamos de prótese, tivemos a epêntese do /r/, por influência (analogia) do vocábulo astro. Já o adjetivo “estelar” segue a forma latina stella, com as devidas adaptações ao sistema formo-fonêmico do português. 3) nidu > nio > nio > ninho: houve a queda do /d/ intervocálico (síncope), seguida da nasalização do /i/, por influência do /n/ inicial, e posterior desenvolvimento da consoante palatal, para desfazer o hiato de dificíl pronúncia. Mas observem os vocábulos eruditos, que mantiveram o radical latino: nidificar (formar ninhos), nidícola (aquele que permanece no ninho algum tempo depois de nascer), nidiforme(que tem forma de ninho), nidífugo ( que está apto a correr, mal sai do ovo).
No dicionário do Aurélio, verificamos o vocábulo velarcom três origens diferentes: 1. velar, adj. - relativo ao véu palatino; origina-se do latim velu acompanhado do sufixo adjetivo -ar; 2. velar (do latim velare ), verbo - cobrir com véu; 3. velar - (do latim vigilare), verbo - passar a noite acordado; estar atento, vigiar, proteger.
Em gramática histórica, este processo é chamado de formas convergentes: duas ou mais palavras que vão originar um vocábulo em português. A diferença significativa é explicada, portanto, pela diferença de origem, isto é, são três étimos diferentes.
Dessa forma, perguntamos: Estamos estudando uma língua morta? E o que dizer do uso do latim na propaganda, elemento já utilizado por tantos, já que o nome enobrece o produto.
Quem não conhece a companhia Fiat Lux (Faça-se a luz) produtora de uma marca de fósforo? E O sorvete Magnus ( máximo de prazer no sabor), e o famoso “Habemus Chester” ( temos Chester), propaganda em que aparece um homem vestido de romano? E o brinquedo Lego, em que as peças se unem. E a palavra ônibus (“de omnibus - para todos”, dativo plural de omnis, omnis)? Enfim, “ad vitam aeternam”( para sempre), não precisaremos fazer qualquer adendo (latim “addendum”), para documentar a importância de nossa língua-mãe, que continua viva e universal.
Termos como ego id, usados na psicologia, ou lato sensu (sentido amplo), stricto sensu (sentido restrito), quorum, forum, e tantos outros, denotam a importância da língua latina para o ensino universitário.
Temos ainda a influência do superestrato, camada do léxico que veio por influência dos termos dos bárbaros que aniquilaram com o Império Romano, no século V d.C., mas que não impuseram sua língua ao povo vencido. São palavras de origem gótica, ligadas principalmente à arte militar: dardo, elmo, espora, estribo, guerra, trégua, etc.
No século VIII d.C., os árabes invadiram a Península Ibérica. Também não conseguiram impor a sua língua e deixaram numerosas palavras no nosso léxico: alecrim, algodão, alface, alfazema (-alera o artigo árabe); alicate, adarga, alfange, algema; alqueire, arroba, quintal; aduana, alcova, aldeia, armazém; aletria, álcool, xarope; enxaqueca.
Gostaríamos de citar em parte, quase concluindo, um texto fabuloso de Célia Therezinha Oliveira Guanabara, na enciclopédia Bloch, de maio de 1967:
Quando alguém fala com orgulho da garra da agremiação por que torce, está-se utilizando, embora com derivação de significado, de um termo de origem basca. Dos celtas, herdamos as palavras carro, cabana e cerveja. A brasa da atual música jovem é de origem germânica, assim como guerra e ganhar, o que prova que aqueles bárbaros eram mesmo avançados.
...você que é brasileiro, que diz, portanto, o seu amor e o seu protesto, sua fé e seus desejos, sua tristeza, que canta a Banda, tudo no mais legítimo português; você, que lê Machado, Guimarães Rosa, Graciliano, Jorge Amado, Drummond de Andrade e João Cabral, emocionando-se com o algo mais por eles acrescentado às palavras; você, a esta altura dos acontecimentos, já se sente condômino de tão vasta comunidade idiomática, orgulhoso de ter herdado uma língua que, pelo visto, está-se saindo melhor que a encomenda.
E dizer-se que tudo começou em eras remotíssimas, numa parte da Itália, o Lácio, região habitada por um povo de pastores, rude e prático, que falava o latim.
Concluindo, gostaríamos de voltar ao poema inicial de Olavo Bilac, um dos mais importantes da língua portuguesa. A verdade histórica, revelada pela diacronia, nos diz, porém, que a última conquista romana que originou uma língua neolatina foi a do território da Dácia (Romênia), com o romeno. Portanto, salvo melhor juízo, a última flor do Lácio seria essa língua, e não o português.
Esse fato não tem nenhum importância no julgamento do notável soneto de Bilac, que continua assim:
Ouro nativo, que na ganga impura/ A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura, / Tuba de alto clangor, lira singela,/ Que tens o trom e o silvo da procela/ E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma/ De virgens selvas e de oceano largo!/ Amo-te, ó rude e doloroso idioma!
Em que da voz voz materna ouvi: “meu filho”/ E em que Camões chorou, no exílio amargo, / O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BILAC, Olavo. Olavo Bilac - Poesia. 2 ed Rio de Janeiro : Agir, 1959, p. 86.
CUNHA, Celso e CARDOSO, Wilton. Estilística e gramática histórica. Rio de Janeiro : Tempo Brasileiro, 1978.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio - o dicionário da língua portuguesa. 3 ed. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1999.
GUANABARA, Célia Therezinha Oliveira. Nossa língua portuguesa. In Enciclopédia Bloch, 1967.

Para saber mais:

http://www.filologia.org.br/vcnlf/anais%20v/civ6_01.htm

sábado, 24 de dezembro de 2016

REFLEXÕES SOBRE O NATAL DA GRAMÁTICA



Os festejos natalinos buscam reviver ou renascer nos corações das pessoas momentos vividos que emocionaram de alguma forma! Mas que significa a palavra NATAL? Qual sua origem? Que verdade ou verdades ela representa? Que sentido a palavra representa para cada pessoa? Essas e outras indagações é que vou tentar trazer do ponto de vista das emoções, omitindo o sentido comercial ou religioso atribuído pelos interesses da igreja e do capital entre outros. Sobre esses aspectos, há muita controvérsia.

FELIZES AMIZADES!

Então é natal e as pessoas, tocadas por uma emoção momentânea se entregam às mensagens e se envolvem em um mar de votos de felicidades e harmonia e PAZ! Fico a me perguntar sobre o que se passou durante a outra parte do ano vivido em sociedade. Quero saber que fim levou as ofensas, provocações, assédios morais, descontroles emocionais, irritações no trânsito e no trabalho, nos campos de futebol entre as torcidas, nas divergências políticas e de ideais. Quero entender o que foi feito com os crimes cometidos para alguns dos quais os Presidentes e Presidenta da República dão indultosde natal. Quero saber onde está o INSTINTO(assistam ao filme comAnthony Hopkins, Cuba Gooding Jr., Donald Sutherland, Maura Tierney)de humanidade consciente das pessoas que sabem se expressar estrategicamente para dizer palavras emocionadas de pedidos de perdão demonstrando humildade para receber um abraço, um afago, um gesto de olhar sincero ou outro de interesse pessoal. O que faz as pessoas pensarem que “então é natal” e só agora devem rever seus erros e falhas cometidas por todos os outros dias do ano esquecidos nesse período?

NATAL AFRO DESCENDENTE
TODOS OS ORIXÁS ESTÃO CONOSCO

http://www.youtube.com/watch?v=EuEW3Tgxrr8 INSTINTO (assistam ao filme comAnthony Hopkins, Cuba Gooding Jr., Donald Sutherland, Maura Tierney)


AXÉ PRA TODAS NÓS, CRIATURAS!
AXÉ PRA TODAS NÓS, CRIATURAS!

Ah! Então é natal. Hora de refletir sobre o renascer dentro de si e voltar o olhar para ver e enxergar o outro pela necessidade que tem e não pelos bens que tem. Hora de doação de bens materiais e emocionais porque esse é o momento. Passei o ano e nem me dei conta de que a cada momento eu deveria estar atento à reflexão, tomar consciência e ao tratamento imediato dos meus erros diante do outro. Mas agora é natal e eu preciso mostrar minha bondade, minha humildade, dar meu perdão, pedir meus perdões todos, mostrar que também mereço tudo e fazer votos de saúde, paz, dinheiro abundante. Claro! É natal! Esse é o momento. Mas por que não fiz isso o ano todo? Ah! É porque não é NATAL!

Gente! É hora de nascer de novo todos os dias!

HUMILDADE e RESPEITO!

Comungando com Paulo Jorge, agradeço aos amigos leitores, aos colaboradores do IBAHIA que cuidam de nosso BLOG DE LÍNGUA PORTUGUESA e aos amigos Paulo Jorge e Marta Mendonça por mais um ANO com essa parceria produtiva e saudável!

Feliz nascer de novo,

Adil Lyra

Sobre adillyra

Adil Lyra Professor de Gramática, de P.L.E.T. (Produção de Leitura e Escrita de Textos), Especialista em Novas Abordagens de Gramática e Texto, Consultor Educacional e Palestrante, Master e Trainner em PNL, gosta de soltar a voz nas estradas, nadar nas águas das palavras e cultivar os conhecimentos sobre a Língua Portuguesa. Ele brinca de dar aulas usando os termos engraçados que a linguagem proporciona.

para saber mais:

http://blogs.ibahia.com/a/blogs/portugues/2014/12/24/reflexao-sobre-o-natal-da-gramatica-partiu-emocoes-e-festejos/

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

LÍNGUA PORTUGUESA NA INTERNET: O CASO DAS ABREVIAÇÕES EM SALAS DE BATE-PAPO





Marcelo Alves da Silva (PUC-RIO)


INTRODUÇÃO

Nas últimas duas décadas temos presenciado o que várias pessoas chamam de "a última revolução do milênio". No centro deste movimento encontra-se o que se convencionou chamar de Internet, uma rede mundial de comunicação capaz de interligar computadores do mundo inteiro. Só na América Latina já são mais de dez milhões de usuários, e no mundo inteiro esse número já passa dos trezentos milhões. Com um mecanismo tão poderoso de comunicação, seria impossível pensar que as línguas naturais não sofreriam algum tipo de influência e transformação. A linguagem utilizada pelo internauta é determinada pelas características e restrições do meio no qual ela se encontra, ou seja, trata-se de uma mistura de características da linguagem escrita, pois assim ela se apresenta, com características da linguagem oral, pois a natureza de sua comunicação é de interação direta e simultânea, típica deste tipo de linguagem.
O objetivo de nosso trabalho é analisar aspectos dessa linguagem relacionados com abreviações de palavras. Analisamos a produção de internautas que participaram de uma interação em uma sala de bate-papo destinada a jovens entre 10 e 15 anos. Visamos assim, a partir de análises de ordem qualitativa e quantitativa, discutir o uso de abreviações na linguagem virtual, apresentando contrastes entre esse tipo de linguagem, a linguagem escrita tradicional e a linguagem oral.
O trabalho encontra-se dividido da seguinte forma. Na primeira parte apresentamos as considerações de alguns dos nossos mais importantes gramáticos referentes ao processo de abreviação. Na segunda parte analisamos as salas de bate-papo e algumas características da linguagem utilizada por seus usuários. Na terceira parte explicamos a metodologia empregada ao longo da análise e na coleta de dados, assim como algumas das razões que nos levaram a fazer certas escolhas metodológicas. Na quarta parte apresentaremos os resultados da coleta referentes às formas abreviadas dos vocábulos “você”, “teclar” e “não”. Discutiremos também os seus respectivos processos de abreviação. Apresentaremos as classes gramaticais das abreviações coletadas e, por último, destacaremos, a partir de nossa coleta de dados, as cinco possibilidades de constituição para as formas abreviadas. Na quinta e última parte trataremos das considerações finais sobre nossa pesquisa.

ABREVIAÇÃO NAS GRAMÁTICAS

As gramáticas tradicionais pouco abordam o problema das abreviações no campo dos processos de formação de palavras. Há a preocupação de destacar a necessidade de se abreviar certas palavras, empregando uma parte da palavra pelo todo, para uma comunicação mais rápida, sem que se prejudique tal ato comunicativo. Não há uma discussão a respeito do processo de abreviar, limitando-se apenas a acentuar certas estruturas que se tornaram independentes, no decorrer do uso, em relação ao vocábulo original, pois adquiriram um novo matiz no campo semântico. Um bom exemplo seria fotografia e foto.
BECHARA(1986: 185) destaca foto como tendo um emprego mais freqüente, servindo ainda para especificar gêneros ( um bom exemplo seria: fotos infantis, fotos esportivas etc.), não ocorrendo o mesmo com o termo fotografia. Ressalta que a passagem para a constitução de uma nova palavra, no caso da abreviação, ocorre quando há uma variação no sentido ou quando adquire um novo matiz em relação ao vocábulo integral. Não obstante, para o referido autor o emprego da abreviação ocorre não somente num nível coloquial mas também na linguagem mais apurada, citando como exemplo para recurso expressivo o caso de extra por extraordiário ou extrafino.
CUNHA (1994: 131) relata que os compostos greco-latinos cuja criação foram recentes, como no caso de quilograma, motocicleta e auto-ônibus, apresentam suas respectivas formas abreviadas quilo, moto ônibus adquirindo o sentido da palavra da qual procede. O mesmo autor destaca o processo de criação de vocábulos para a redução de longos títulos a siglas, como no caso de instituições e organizações de natureza variada. Uma vez criadas e utilizadas tais siglas de modo corrente, passa a ser percebida como uma palavra primitiva, sendo capaz de formar derivados, como no caso de PT, petista etc.
ROCHA (1999: 176-184), que segue a linha de estudos de Morfologia Gerativa em seu livro Estruturas Morfológicas do Português, é o que mais questiona a respeito do processo de abreviar palavras. Destaca a sigla como passível de geração de novos itens lexicais, tal como celetista, de CLT, havendo também a possibilidade de flexão de número, utilizando o apóstrofo para escrita e -s, tal como no exemplo OTN’s. Também ressalta a autonomia do uso na língua, citando como exemplo CEP, CPF, sendo muitas vezes desconhecidos por parte dos falantes a origem das palavras sigladas. Tal autor destaca também a natureza polissêmica, percebendo sigla como palavra, como no exemplo:
Vou instalar uma CPI nesta casa para saber quem roubou meu chocolate.
Para ROCHA há quatro tipos de siglas a saber:
Siglagem grafêmica: grafemas iniciais utilizados a partir de bases compostas. Um exemplo: Ordem dos Advogados do Brasil, OAB;
Siglagem silábica: utilização de sílabas iniciais das bases. Um exemplo: Departamento de Trânsito, DETRAN;
Siglagem grafo-silábica: utilização de grafemas e sílabas iniciais das bases. Um exemplo: Banco do Estado de Minas, BEMGE;
Siglagem fortuita: processo diverso, havendo principalmente a preocupação com a sonoridade da sigla. Um exemplo: Serviço Nacional do Comércio, SENAC.
O autor emprega para a abreviação vocabular o termo derivação truncada, truncamento ou truncação. Há uma ênfase quanto ao processo de siglagem, daí, portanto, um maior aprofundamento. A derivação truncada estaria condicionada a dois tipos básicos:
Derivação truncada estrutural. Corte num elemento na estrutura da palavra, podendo ser um sufixo ou uma das bases de um vocábulo composto. Como exemplos: delegado, delega e pornográfico, pornô;
Derivação truncada não estrutural. Corte aleatório sem levar em conta a estrutura da base vocabular. Como exemplos: grã-finagem, granfa e Guimarães, Guima.
ROCHA (1999: 184) esclarece que não há uma posição muito clara da morfologia gerativa quanto ao problema do truncamento/abreviação, deixando em aberto tal questionamento. Contudo, relata que tal “processo se aplica normalmente a bases substantivas, apesar de haver alguns raros exemplos em que a base é um adjetivo.” Destaca também que a forma integral do vocábulo estaria relacionada a um discurso neutro e a forma abreviada, a uma linguagem coloquial ou “giriática”.

Em Gramática Normativa da Língua Portuguesa, de Rocha Lima, não se apresenta o debate ou o relato do processo de abreviação.

SALAS DE BATE-PAPO

As formas de comunicação mediadas pelo uso de computadores vêm crescendo nas últimas duas décadas de forma a permitir que um número cada vez maior de pessoas possa dialogar em tempo real através do uso de mecanismos de "chat". Estes mecanismos na sua forma mais simples apresentam a possibilidade de duas pessoas, separadas fisicamente, terem diante de si uma tela dividida ao meio possuindo duas caixas de texto, cada caixa sendo preenchida com o texto de um interlocutor e seu conteúdo ficando exibido nos dois monitores. Estes mesmos mecanismos nas suas formas mais complexas podem possibilitar comunicações simultâneas envolvendo um grande número de pessoas localizadas em várias partes do planeta. A forma mais comum utilizada para tais conversas é comumente chamada de sala de bate-papo. Apesar de diferentes modelos de salas estarem disponíveis atualmente na internet, todas têm em comum o fato de envolverem a produção escrita em um diálogo textual sincrônico entre interlocutores separados fisicamente. Grupos que se comunicam usando esse mecanismo são convencionalmente chamados de comunidade virtual.
Tal produção tem recebido especial atenção nos últimos anos por parte de pesquisadores que vêem nela um campo fértil para a análise de novas formas de interação social e lingüística. Ferrara (1991) a classifica como "discurso escrito interativo", enquanto Werry (1996: 47) a vê como a conseqüência de uma dimensão social, espacial e temporal única que "reconfigura muitos dos parâmetros que determinam importantes aspectos de como atos comunicativos são estruturados". Com certeza a produção em questão nos apresenta diversos exemplos de como propriedades existentes na linguagem escrita através de computadores convergem para características tipicamente associadas à linguagem oral.
O estudo de Werry está baseado num programa de domínio público comumente conhecido como IRC (Internet Relay Chat), criado por Jarkko Oikarinen, em 1988, e utilizado primeiro na Finlândia. Contudo, as condições para as várias formas de abreviações se apresentam como as mesmas, salvo raras exceções, nos ambientes de salas de bate-papo. WERRY (1996: 53, 54) destaca certos fatores para a produção de abreviações, dentre elas: o tempo mínimo para uma resposta, uma vez que o principal objetivo num ambiente como esse é o de estabelecer e manter o diálogo e a competição entre os usuários pela atenção do outro. Para tanto, são utilizadas, entre outras, como estratégias para a redução de tempo e esforço na comunicação, o uso de símbolos, orações sintáticas reduzidas e abreviações.
Em sua dissertação de mestrado recentemente defendida na UnB, Helena da Silva Guerra apresenta características das linguagens oral e escrita que estão presentes na linguagem dos bate-papos virtuais, e características que, devido a natureza de tal linguagem, desaparecem ou se modificam nesta nova forma de interação. Segundo Helena, temos então como resultado um tipo de linguagem com as seguintes condições de produção:
1 - Interação à distância (espacial, mas não temporal).
2 - Planejamento quase simultâneo à produção.
3 - Criação coletiva: administrada passo a passo.
4 - Possibilidade relativa de revisão.
5 - Possibilidade de consulta relativamente livre.
6 - A reformulação pode ser promovida tanto pelo emissor como pelo receptor.
7 - Acesso imediato às reações do receptor.
8 - O emissor pode processar o texto, redirecionando-o a partir das reações do receptor.
9 - O texto tende a esconder o seu processo de criação, mostrando apenas o resultado.
Algumas destas condições são responsáveis por fenômenos que demonstraremos a seguir em nossa análise.

METODOLOGIA DA PESQUISA

A fonte de dados utilizada para esta pesquisa foi o registro de uma sala de bate-papo do provedor de acesso à internet UOL (Universo On Line). O provedor contém oito conjuntos de salas temáticas, dentre as quais a que se denota pelo tema “idade”. Este conjunto temático é dividido em sete grupos, a saber: salas de até 10 anos, de 10 a 15 anos, de 15 a 20 anos, de 20 a 30 anos, de 30 a 40 anos, de 40 a 50 anos e mais de 50 anos.
A sala registrada foi a de número oito, que estava no grupo de 10 a 15 anos. Foi gravado no dia primeiro de maio de 2000, entre às 00:55h e 02:02h, sendo mais tarde formatado em arquivo “DOC”, compreendendo um total de quarenta e cinco páginas neste formato, para manipulação no programa Word, da Microsoft.
O grupo de 10 a 15 anos foi selecionado porque os usuários desta faixa de idade já possuem um relevante domínio do código escrito.
Uma sala do grupo de 0 a 10 anos não poderia ser selecionada, uma vez que tal faixa apresenta uma grande margem de insegurança quanto ao domínio do código escrito. As salas dos grupos superiores à faixa de idade entre 10 a 15 anos também não foram selecionadas porque tais salas dispõem de um mecanismo chamado reservado, que impede o acesso às trocas de informações pelos outros participantes, permitindo maior discrição numa conversa entre usuários. Tal mecanismo é comumente usado, impedindo, assim, um registro maior das informações que são apresentadas nestas salas.
Por sua vez, na faixa etária de 10 a 15 anos esse dispositivo não está disponível (por questões éticas e legais há na entrada das salas deste grupo uma pequena caixa de diálogo que argumenta sobre o perigo de trocas de informações sigilosas, entre outras coisas), o que permite maior acesso, e registro, das informações veiculadas. Não houve necessidade de autorização, por parte dos usuários, para que usássemos o registro das conversas, uma vez que os mesmos utilizavam “apelidos” para esconder suas próprias identidades. Contudo, para maior segurança, os usuários serão identificados pelas iniciais de seus “apelidos” quando apresentados na análise dos dados desta pesquisa.
Não houve nenhuma sanção ou bloqueio por parte do provedor que impedisse a gravação e a impressão deste registro.
Utilizamos para o empreendimento de nossa pesquisa todo o período registrado. Entendemos haver nesta seleção uma quantidade substancial de informações que nos permitiu a análise dos dados e a discussão sobre o uso de abreviações. Para tanto, dentro do período selecionado todas as abreviações foram destacadas. Em seguida foi utilizado, dentro do programa Word, o comando “Localizar...” para a apreensão dos enunciados que apresentavam abreviações. Cada uma das abreviações, dentro dos enunciados apreendidos, foram analisadas e classificadas, conforme o levantamento de seus respectivos grupos.
No entanto, o resultado total de algumas abreviações puderam ser comparadas com a quantidade de seus pares vocabulares completos. Todos os dados selecionados foram revistos.

ANÁLISE DOS DADOS

Nossa pesquisa coletou um total de 873 abreviações, compreendendo 31 siglas (vide anexo). Duas formas abreviadas se destacaram deste total: “vc” e “tc”. No quadro seguinte temos:

Total de abreviaçõesTotal da forma abreviada “vc”Total da forma abreviada “tc”
883233459

O quadro demonstra a procura do outro e a possível manutenção do diálogo, uma vez que vc é a forma abreviada de “você” e tc é a forma abreviada de “teclar”.
Temos no primeiro caso uma forma, entendida pelos usuários, que se caracteriza em seu processo de abreviação a supressão de vogais. O contexto em que se apresenta é claro, independente do assunto ou momento do diálogo, tratando-se do pronome pessoal, segunda pessoa do singular, “você”. Como nos exemplos abaixo:
(00:55:40) L. fala para G.: vc è tão diferente das outras pessoas?
(01:53:06) G. fala para G. M...: QUANTOS ANOS VC TEM ??
A freqüência desta forma abreviada indica o reconhecimento, por parte do usuário desta comunidade, para a utilização do pronome “você”. Há para o pronome mais duas formas abreviadas, caracterizando a flexão de número e a redução para a forma coloquial -‘cê. Quando comparado à palavra inteira, o resultado é interessante como podemos ver no quadro abaixo:

Total da palavra completa “você”Total da forma abreviada “vc”Total da forma abreviada “vcs”Total da forma abreviada “c”
0233122

Para exemplificar, apresentamos os seguintes enunciados:

(01:53:06) G... grita com D.: E vc deve ser gostosa
(01:21:10) R. RJ fala para D. e P. Rj: ilha do governador e vcs?
(02:01:24) A. F. grita com m. do icq: Pq c ñ vai tc com o Johnny bravo?Ele é mó gente fina...

Como vimos, as duas formas abreviadas indicam não somente o reconhecimento mas a possibilidade de utilização por parte dos usuários desta sala. Talvez a forma abreviada vcs não se apresente com uma grande quantidade neste ambiente por estar direcionado especificamente a um grupo de usuários. R. RJ está conversando com duas pessoas que estão utilizando um mesmo computador: D. e P. RJ. Se quisesse se comunicar com outras pessoas dificilmente usaria “vcs”, pois correria o risco de não chamar a atenção dos outros usuários. Usaria, isto é o que ocorre frequentemente, o pronome todos, disponível numa caixa de texto em que estão os apelidos dos usuários daquele momento de interação no ambiente de bate-papo virtual.
Quanto à forma abreviada “c” temos a representação fonética de uma sílaba por uma letra. O contexto possibilita o seu reconhecimento como a redução de um pronome. Contudo, o baixo índice de utilização demonstra a insegurança quanto ao uso por parte dos ususários, pois um outro contexto pode caracterizar esta abreviação com uma outra função gramatical, conferindo um possível caráter polissêmico. Como no exemplo abaixo:
(01:57:53) j. b. grita com m. do icq: c vc quer conhecer u cara legal é só falar omigo!!

Temos c representando a conjunção “se”, havendo também uma representação fonética de uma sílaba por uma letra, dependente de um contexto claro para os usuários. Fora deste contexto, o entendimento fica comprometido.
Trata-se de um caso interessante a forma abreviada tc. A forma integral é o verbo “teclar”, sinônimo do verbo “digitar”. No ambiente virtual, a forma abreviada tc tem o sentido de “conversar”, “dialogar”. Comparando o total de abreviações com o total da forma integral da palavra teremos o seguinte quadro:

Total da forma abreviada “tc”Total da palavra completa “teclar”Total da palavra completa “teclei”
45911

O resultado demonstra o uso corrente da forma abreviada reconhecida pelos demais usuários desta sala temática. Apenas uma vez surgiu a forma integral “teclar” e o verbo no tempo passado “teclei”. Como dissemos, o uso refere-se ao verbo, no tempo nominal infinitivo, com o sentido de conversar. Contudo, tal uso está permitindo a flexão número-pessoal e modo-temporal desta forma abreviada no campo do significado, estando subentendida na estrutura de uma oração num dado contexto situacional, caracterizando uma simplificação morfológica atípica em nossa língua. Eis os seguintes exemplos:
(00:55:35) G.-S. fala para C. e M.: vamos tc?
(00:55:58) *P./RJ* fala para b.: tc de onde?/ qts anos??
(01:03:26) A. fala para n._rj: Sair, dançar, zuar, beijar, etc... tc de São Caetano do Sul, SP, e vc?
(01:26:32) *G.* grita com g.: vc vai chorar eu nem tc com vc!!!!!!!!!!hahhahhahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha!!!!!!!!!SP!!
(02:01:22) G. sp fala para G. S.: claro vc esta tc com outra tb
(02:01:52) G. S. fala para G. sp: eu so estou tc com vc , ein nenhuma outra hora eu tc com outra
Temos as formas nominais do verbo teclar no infinitivo “vamos tc?” e gerúndio “claro vc esta tc com outra tb”. Há também as formas verbais do modo indicativo nos tempos: presente “...tc de São Caetano do Sul, SP e vc?” e passado “vc vai chorar eu nem tc com vc...”.
Esta forma abreviada também apresenta um caráter expressivo, ressaltada na tela, servindo como estratégia para chamar a atenção do outro. Temos os seguintes exemplos:

(01:03:49) R. pergunta para L.: qqqqqqqqquuuuuuuuuuueeeeeeeerrrrrrrrrr tttttttcccccccccccc??????????
(01:34:04) m. do ICQ: quer tc quer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer tcquer

A estratégia é a mesma, porém os objetivos são diferentes. Os dois usuários entraram nos respectivos horários, sendo que R. busca de imediato a atenção de L. utlizando para isto a relevância ideográfica da expressão “quer tc?” e o verbo “perguntar”, acionado na caixa de texto. Por sua vez, L. não responde a R. em nenhum momento do período registrado. M. do ICQ, por sua vez, busca a atenção de alguém, não especificando o usuário. Repete o mesmo recurso por mais quinze vezes.
Nesta forma abreviada não há somente a supressão de vogais, mas também a supressão das consoantes “l” e “r”. Isto sugere que a representação silábica por uma letra ocorreu devido ao traço forte dos fonemas “t” e “c” em suas respectivas sílabas. Contudo, a constituição fônica desta forma abreviada sugere um outro verbo, “tecer”, bastante condizente, embora não comprovado nos dados registrados, pois há o sentido metafórico de construção de um tecido/texto na interação com o(s) outro(s). Isto apenas demonstra que podemos suscitar a hipótese da forma abreviada “tc” tratar-se de uma abreviação polissêmica.
A palavra “não” apresentou três formas abreviadas: naum, n e ñ. No seguinte quadro temos os totais de cada uma destas formas comparadas à forma integral:

Total da palavra completa “não”Total da forma abreviada “n”Total da forma abreviada “naum”Total da forma abreviada “ñ”
742820

Em princípio, a forma “naum” se apresenta como abreviação pela quantidade de teclas a serem pressionadas (4) em relação à palavra “não” (5), tendo seu uso reconhecido devido às limitações de certos programas que não aceitam o sinal gráfico referente ao traço de nasalidade. Apesar disso, a forma abreviada mais utilizada é “ñ”, o que sugere, neste caso, a quantidade de teclas a serem pressionadas (3), juntamente com a distinção gráfica do traço de nasalidade, que torna clara a identificação para o usuário.. Isto também sugere que a manipulação de comandos no teclado, num ambiente virtual, condiciona processos de abreviação de palavras.
Há bastante insegurança quanto ao uso da forma abreviada “n” talvez por não haver por parte dos usuários no ato comunicativo uma clara distinção, dependente possivelmente de um forte contexto em que se insere, que correlacione esta forma com a palavra completa “não”, apesar de apenas um tecla ser pressionada. Temos os seguintes exemplos:

(01:08:07) D. e P. Rj fala para S. RJ: Eu não falei que a gente foi...vc ñ acreditou... vc conhece o Daniel Kerber daí do Snt mÔNICA.
(01:54:00) D. grita com G...: N SABE !!!!!!!!!! A OUL SO VOLTARA AS 2:30 VC FIU?????????

Os usuários D. e P. RJ demonstram o conhecimento desta possibilidade de abreviação, embora apresentem insegurança quanto ao uso, pois apresentaram no enunciado a palavra completa “não”.
Não é possível determinar em D. se há o conhecimento desta possibilidade de abreviação, pois no enunciado a sigla “UOL” está trocada, não sinal de acentuação nos vocábulos “so”, “voltara” e “as” e a aproximação das teclas “f’” e “v” fez com que escrevesse o vocábulo “viu” por “fiu”. A falta da abreviação para as horas pode indicar o desconhecimento desta regra gramatical. O contexto também não determina se a abreviação “n” representa a palavra “não”, pois há a possibilidade de a mesma representar a palavra “nem”, permanecendo, contudo, para esta forma abreviada um valor de negatividade.
Como vimos em ROCHA (1999) tal processo de abreviação (derivação truncada) estaria relacionado a bases substantivas (flamengo, Fla) e em alguns casos, bases adjetivas (pornográfico, pornô).
As abreviações registradas em nossa pesquisa contrariam a posição do referido autor. O processo ocorre, como já vimos, com as seguintes bases:
Verbo ( teclar, tc; catar, kta; quer, q). Exemplo:
(01:53:44) A. F. grita com j. b.: Vai kta alguma mina?



Pronome (você, vc, vcs, c; tudo, td; quanto, qtqts).Exemplos:
(01:03:32) D. 2000/RJ fala para D. e P. Rj: Oi, td blz??
(01:59:39) Z. fala para G. sp: qt anos?



Advérbio (não, naum, ñ, n);
Preposição( de, e com, c/). Exemplos:
(01:25:18) G.15 fala para ms: eu hein, ta me estranhando, ficar falando c/ homem?
(01:28:33) T. fala para G.-®j/JPA: Tb sou d JPA



Conjunção (se, c);
- Substantivo, o maior índice de abreviações (beijo, bjo; homem, etc.). Exemplos:
(01:20:43) Z. fala para M.: DEPENDE VC É H OU M?
(01:42:04) S. fala para G. c.: tenho que ir bjo tchau



Adjetivos ( pequeno, peq.; claro, cl etc.). Exemplos:
(02:00:51) m. do icq grita com j. b.: vc deve ter pinto peq. tbm!!!!
(01:35:29) D. fala para T. B.: sou loira de olhos cast cl esverdeados



Palavra denotativa de inclusão (também, tb, tbm).
Há certas formas abreviadas que indicam dúvidas quanto ao reconhecimento de sua significação, gerando dificuldades na compreensão para os usuários. Como exemplos temos:
(01:20:46) T. P. fala para L.: VC SABE O QUE É CDP
(01:09:44) S. RJ grita com TODOS: FJ
T. P. ao entrar na sala pergunta sobre o significado de CDP. Pergunta mais três vezes mas ninguém responde. No exemplo seguinte, não há um contexto para definir o significado de FJ. Nem S. RJ parece preocupar-se em especificar o sentido dessa forma abreviada. Podemos apenas supor tratar-se de uma abreviação para “Força Jovem”, uma torcida organizada do clube de futebol Vasco da Gama, pois há momentos em que certos usuários começam a discutir a respeito de futebol, sendo este apenas um indício para tal suposição. S. RJ., aliás, não espera por uma resposta. Ele volta a interagir com os usuários, às 01:10h, com os quais estabelecera contato, iniciando um outro assunto.
Por último, as abreviações também apresentaram cinco possíveis formas em seu processo para a constituição do produto final. Trata-se de um destaque sucinto em nossa pesquisa, pois necessitaríamos de mais dados para melhor explicitar sobre tal assunto. Seriam estas as cinco possibilidades:
Representação fonético-silábica: kta (catar), kra (cara), kd (cadê), bjo (beijo);
Supressão de vogais: vc (você), qnd (quando), qts (quantos), td (tudo);
Supressão de vogais e de consoantes não-representativas de uma palavra completa: tc (teclar);
Representação de um grafema para uma palavra completa: H (homem), M (mulher);
Representação de símbolos matemáticos para a palavra completa: + (mais) , - (menos). Temos como exemplo:
(01:41:39) S. fala para G. c.: + ou -
Tais processos suscitam a hipótese de que talvez haja a possibilidade de uma definição para um conjunto de regras a partir dessas representações para formas abreviadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho não teve a pretensão de esgotar a questão das formas abreviadas neste ambiente virtual de sala de bate-papo, mas, sim, destacar certas questões pertinentes a este caso. Importante ressaltar a especificidade da sala temática, não havendo confirmação, em nossa pesquisa, na relação entre a faixa etária apontada pela sala e os seus respectivos usuários. Dentre o que foi exposto, vimos que o uso corrente de certas abreviações tendem a flexionar-se, como nos casos de vc tc. Também vimos que o conhecimento na manipulação dos comandos do teclado pode favorecer na constituição dessas formas, como no caso de ñ . O contexto em que se insere uma abreviação muitas vezes o torna claro para o(s) outro(s), outras vezes não atua como facilitador na compreensão, como no caso da forma CDP, o que sugere que o contexto tem papel relevante na constituição dessas formas abreviadas. Os dados também indicam que o processo de abreviar palavras não estaria limitado somente a bases substantivas e adjetivas, mas verbais (kta) e conjuntivas (pq), entre outras. Não obstante, apresentamos, de forma bastante sucinta, cinco possibilidades de representação para a forma abreviada que se destacaram em nossa pesquisa: a fonético-silábica, a supressão de vogais, A supressão de vogais e consoantes não-representativas de uma palavra completa, representação de um grafema para uma palavra completa e a representação de simbolos matemáticos para uma palavra completa.
O que se revela, então, a partir dos indícios levantados em nossa pesquisa são possíveis características de um recurso estratégico, no caso a forma abreviada, que atenda ao binômio velocidade/atenção, utilizados no discurso escrito interativo, termo empregado por FERRARA (1991), WERRY (1996) e aceito por nós. Recurso dependente de um conhecimento lingüístico, o qual torna possível suscitar em nossa pesquisa, e aqui a utilizaremos como um questionamento para trabalhos futuros, a hipótese de que talvez tais usuários estejam num processo de aprendizado mútuo no que diz respeito às possibilidades, usos, e identificação de formas abreviadas com possíveis regras que ainda estão para ser construídas de modo coletivo, uma vez que a constituição deste ambiente virtual (sala de bate-papo) os favorece.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BECHARA, E. (1980) Moderna Gramática Portuguesa: cursos de 1o e 2o graus. São Paulo: Nacional.
CUNHA, C. F. da & CINTRA, L. (1985) Gramática da Língua Portuguesa São Paulo: Nova Fronteira.
HALLIDAY, M. A . K. (1989). Spoken and Written Language. Oxford, University Press.
LIMA, C. H. da R. (1964) Gramática Normativa da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Briguiet.
ROCHA, L. C. A. (1999). Estruturas Morfológicas do Português. Minas Gerais: UFMG.
SAENGER, Paul (1995)“A separação entre palavras e a fisiologia da leitura” In: OLSON, David R. & TORRANCE, Nancy. Cultura Escrita e Oralidade. Coleção Múltiplas Escritas. São Paulo: Ática.
TOLCHINSKY, Liliana (1996). “Aprender sons ou escrever palavras?”. In: TEBEROSKY, Ana & TOLCHISNKY, Liliana, org. Além da Alfabetização. Rio de Janeiro: Ática.
VICENTE, H. da S. G. (2000) Relações de Gênero Social e Democracia no Espaço Virtual da Internet. Dissertação de Mestrado. Brasília: DLLCV/UnB.
YATES, S. J. (1996) “Oral and Written Linguistic Aspects of Computer Conferencing: A Corpus Based Study”. In: HERRING, Susan, org. Computer-Mediated-Communication. John Benjamin BV.
WERRY, C. C. (1996) “Linguistic and Interacional Features of Internet Relay Chat”. In: HERRING, Susan. Computer-Mediated- Communication. John Benjamin BV.
ANEXOS
PALAVRA COMPLETAABREVIAÇÃOTOTAL
vocêVc233
Tecer, teclarTc459
queq18
nãoñ20
tambémtb12
vocêsvcs12
quantosqts8
cadêkd10
porquepq11
homemh5
São Paulosp8
mulherm3
?esc3
castanhocast2
ded4
vocêc3
?cdp4
nãon2
Ilha do GovernadorIlha do gov2
Espírito Santoes2
Para qualPr qal2
carakra2
Belo horizontebh2
cabelocab1
quandoqnd2
Tecer, teclartttccc1
curitibactba1
Santa (Mônica, colégio)snt1
observaçãoobs1
problemaprob.1
Bahiaba1
Querer (quer)q3
quantoqt1
belezablz1
catarkta1
aniversárioniver1
tudotd1
beijobjo1
Mais ou menos+ ou -1
computadorpc1
Colégio Militar Rio de Janeirocmrj1
Jacarepaguájpa1
comc/1
Vá se f...*vsf1
tambémtbm1
pequenopeq1
clarocl1
(tipo de entrada para servidor do usuário para o acesso na internet)uin1
Euel1
Força Jovem*FJ1
?clg2
Nãonaum8
Rio de JaneiroRJ5
Sec1
Universo On LineUOL2
I seek you (programa de domínio público para bate-papo virtual)ICQ8
Total883

* vocábulos que apresentam dúvidas quanto à representação da forma abreviada.

para saber mais:

www.filologia.org.br

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