quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

GRAMÁTICA NORMATIVA O QUE É?



A Gramática tem como finalidade orientar e regular o uso da língua, estabelecendo um padrão de escrita e de fala baseado em diversos critérios, tais como:
- Exemplo de bons escritores;
- Lógica;
- Tradição;
- Bom senso.
Em se tratando de Gramática, tem-se como matéria-prima um sistema de normas, o qual dá estrutura à língua. Tais normas definem a língua padrão, também chamada língua culta ou norma culta. Assim, para falar e escrever corretamente, é preciso estudar a Gramática.
Por ser um organismo vivo, a língua está sempre evoluindo, o que muitas vezes resulta num distanciamento entre o que se usa efetivamente e o que fixam as normas. Isso não justifica, porém, o descaso com a Gramática. Imprecisa ou não, existe uma norma culta, a qual deve ser conhecida e aplicada por todos.
Quem desconhece a norma culta acaba tendo acesso limitado às obras literárias, artigos de jornal, discursos políticos, obras teóricas e científicas, enfim, a todo um patrimônio cultural acumulado durante séculos pela humanidade.

Tipos de Gramática
1. Gramática Normativa
É aquela que busca a padronização da língua, estabelecendo as normas do falar e escrever corretamente.Costuma ser utilizada em sala de aula e em livros didáticos. É também o tipo adotado no Só Português.
2. Gramática Descritiva
Ocupa-se da descrição dos fatos da língua, com o objetivo de investigá-los e não de estabelecer o que é certo ou errado. Enfatiza o uso oral da língua e suas variações.
3. Gramática Histórica
Estuda a origem e a evolução histórica de uma língua.
4. Gramática Comparativa
Dedica-se ao estudo comparado de uma família de línguas. O Português, por exemplo, faz parte da Gramática Comparativa das línguas românicas.

Divisão da Gramática
Sabe-se que a língua é um sistema tríplice: compreende um sistema de formas (mórfico), um sistema de frases (sintático) e um sistema de sons (fônico). Por essa razão, a Gramática tradicionalmente divide-se em:
Morfologia - abrange o sistema mórfico.
Sintaxe - enfoca o sistema sintático.
Fonologia/Fonética - focaliza o sistema fônico.
Observação:
Alguns gramáticos incluem nessa visão uma quarta parte, a Semântica, que se ocupa dos significados dos componentes de uma língua.

para saber mais:

http://www.soportugues.com.br/secoes/gramatica/

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

A LÍNGUA PORTUGUESA E OS ALUNOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS




Ana Angélica Wilske[1]
Vilisa Rudenco Gomes[2]

1 INTRODUÇÃO

Este artigo tem como tema a aquisição e a compreensão da LIBRAS (Língua brasileira de Sinais) no processo de ensino de alunos surdos.
Partindo do pressuposto que as aulas sejam ministradas em LIBRAS, a escolha deste tema se justifica pela necessidade de compreender como o professor atua em sua prática pedagógica, uma vez que, além de ser a língua oficial da comunidade surda, é um direito assegurado com a implementação da lei (LDB, 1996) que garante a todos os portadores de necessidades especiais o acesso a uma modalidade de educação especial, oferecida, preferencialmente, na rede regular de ensino.
Contudo, através de estudos anteriores, foi possível constatar que nem sempre a LIBRAS é a primeira língua, pois um número significativo de surdos apresenta uma linguagem, com designações muito particulares e não convencionadas, o que na maioria das vezes, acaba por gerar dificuldades no aprendizado.
Pensando nessas dificuldades e na futura universalização da escrita da Língua, também protegida por lei, a proposta de ensino desta Instituição é que os alunos aprendam não diretamente a Língua Portuguesa, mas também da escrita da  LIBRAS, que se dá através da escrita dos sinais.
O problema que se apresentou como questão central foi compreender como se dá o aprendizado da LIBRAS como L1 (primeira Língua) e da Língua portuguesa como L2(segunda Língua), das crianças surdas de uma escola cascavelense.
Para se chegar a este objetivo fez-se necessária a elaboração dos objetivos específicos que buscam apontar as percepções dos professores quanto ao ensino da LIBRAS; compreender o processo de aprendizagem da Língua de Sinais e Língua Portuguesa (L1) e (L2); e investigar os procedimentos metodológicos dos professores e o aprendizado dos alunos.
A fundamentação teórica através da qual pôde ser feita a análise e reflexão baseia-se na LDB (Lei de Diretrizes e Bases Nacional) que trata dos direitos relacionados à inclusão de crianças portadoras de necessidades especiais preferencialmente no ensino regular, ou não sendo possível, em escolas especializadas que atendam às condições específicas dos alunos, entre outras bibliografias que tratam da inclusão ou aquisição da Língua Portuguesa, tais como: Declaração de Salamanca, Lei 10436/02 que reconhece a LIBRAS como Língua Brasileira de Sinais, Menezes e Santos (2002), Karnopp e Klein (2007), Karnopp (2003, 2005), Lebedeff (2004), Farias (2006), Quadros (1997, 2000), Lacerda (2000).
A abordagem do tema apresentado neste artigo foi organizada em três capítulos que compreendem: LIBRAS e Surdez – Conceitos, O processo de aprendizagem de L1 e L2 em crianças surdas, Práticas docentes no contexto institucional.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

SURDEZ E INCLUSÃO
A educação inclusiva propõe a participação de todos os estudantes nos estabelecimentos de ensino regular. Contudo, é possível reconhecer que há situações em que os alunos precisam de atendimento especializado, o qual exige realmente reestruturação da cultura, da prática pedagógica e políticas que atendam à diversidade dos alunos, mudanças que realmente possam atender às necessidades dos alunos.
O presente trabalho não pretende centrar-se em termos médicos, mas atingir o conhecimento das limitações na aquisição da L1 e L2, ou seja, LIBRAS ou Língua Portuguesa, ao aluno surdo, por isso, faz-se um breve conceito sobre surdez.
Entende-se surdez, em termos médicos, categorizada em níveis do ligeiro ao profundo. Os tipos de surdez quanto ao grau de perda auditiva:
- Perda auditiva leve: não tem efeito significativo no desenvolvimento desde que não progrida, geralmente não é necessário uso de aparelho auditivo;
- Perda auditiva moderada: pode interferir no desenvolvimento da fala e linguagem, mas não chega a impedir que o indivíduo fale;
-  Perda auditiva severa: interfere no desenvolvimento da fala e linguagem, mas com o uso de aparelho auditivo poderá receber informações utilizando a audição para o desenvolvimento da fala e linguagem;
- Perda auditiva profunda: sem intervenção a fala e a linguagem dificilmente irão ocorrer.
Do ponto de vista educacional, a surdez não interfere no desenvolvimento cognitivo, mas para que a criança tenha um bom desenvolvimento, o Governo brasileiro implementou  a Lei 10436/02 que reconhece a LIBRAS como língua sendo de direito aos surdos através de um intérprete e que as aulas sejam ministradas em LIBRAS através deste profissional. Entende-se LIBRAS, segundo a mesma Lei, como a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.
A LIBRAS, como toda língua de Sinais, é uma modalidade gestual-visual porque utiliza, como canal ou meio de comunicação, movimentos gestuais e expressões por  faciais que são percebidos pela visão; portanto, diferencia-se da Língua Portuguesa, que é uma língua de modalidade oral-auditiva por utilizar, como canal ou meio de comunicação , sons articulados que são percebidos pelos ouvidos. Mas, as diferenças não são somente na utilização de canais diferentes, estão também nas estruturas gramaticais de cada língua. (REVISTA DA FENEIS, número 2, p.16).

Em função das diferenças entre as duas línguas, mostra-se a dificuldade em incluir alunos surdos em sala de aula. A adaptação do aluno torna-se mais difícil em função da dificuldade do professor de ensinar a estrutura da LIBRAS, inserida na Língua Portuguesa.
Para Menezes e Santos (2002), o princípio fundamental da escola inclusiva, de que trata a Declaração de Salamanca, é o de que todas as crianças deveriam aprender juntas, independentemente de quaisquer dificuldades ou diferenças que possam ter. Dentro das escolas inclusivas, as crianças com necessidades educacionais especiais deveriam receber qualquer apoio extra que possam precisar, para que se lhes assegure uma educação efetiva (...)”.
Mesmo que a proposta de inclusão seja coerente, na prática ela torna-se uma dificuldade e esse aprendizado simultâneo de que trata a Declaração, nem sempre acontece. Mesmo em turmas ditas como “heterogêneas”, cada aluno tem seu ritmo de aprendizagem e desenvolvimento. Da mesma forma, acontece com a aquisição da língua, que em condições adversas, acaba por “excluir” o aluno e frustrar o professor.

A EDUCAÇÃO ATRAVÉS DO BILINGUISMO

Farias (2006), apresenta um estudo de caso no qual o bilinguismo, ou seja, o conhecimento de LIBRAS e Língua Portuguesa caracterizaram-se como descontextualizadas e por meio de estratégias próprias ao ensino de ouvintes e dessa forma, questiona a aquisição de L1 e L2 nesse meio. A pesquisa foi feita através de observações e coleta de dados com produções feitas pelos próprios alunos, trabalhos estes, que ao longo do semestre pouco evoluíram em conhecimento, grau de dificuldade e aquisição da língua escrita.
Também Karnopp e Klein (2007) investigam a realidade educacional e linguística dos alunos surdos, partindo de histórias infantis traduzidas e contadas por professores que têm pouco conhecimento da LIBRAS e baseiam suas metodologias na cultura oral, sendo a língua um fator distanciador entre professor e aluno. Karnopp (2003, 2005) e Lebedeff (2004) acrescentam que os textos produzidos na escola são, freqüentemente, artificiais e simplificados, desconsiderando as diferentes práticas discursivas, os diferentes gêneros textuais e a capacidade dos surdos.
Ao comparar as diversas propostas de ensino de L1 e L2, é possível ressaltar que a escrita de grafemas que representam a LBRAS tem trazido mais resultados positivos. É a mesma da Língua de Sinais, só que em forma escrita, formada por unidades que correspondem às configurações de mão, os movimentos e as expressões faciais em diferentes pontos de articulação formam palavras mediante algumas combinações e contextos. Para Quadros (1997, p.6); a LIBRAS deve ser entendida como forma de aquisição da linguagem e ainda, a alfabetização deve ser através desses grafemas que representam diretamente a Língua de Sinais.
Essa forma de proposta bilíngüe busca valorizar os direitos da pessoa surda, pois a aquisição da Língua de Sinais como primeira língua é a forma de oferecer-lhe um meio natural de aquisição linguística, ou seja, apropriar-se de sua língua como direito a qualquer outra pessoa.
Contrapondo-se à valorização unicamente da LIBRAS, Lacerda (2000, p.73), ao sinalizar, a criança desenvolve sua capacidade e sua competência linguística, numa língua que lhe servirá depois para aprender a língua falada (através da oralização e leitura labial), do grupo majoritário, como segunda língua, tornando-se bilíngue, numa modalidade de bilinguismo sucessivo. Contudo, a proposta aqui apresentada, não é de oralização e leitura labial, o que muitas vezes ocorre naturalmente, pela necessidade de comunicação, mas pela comunicação através da LIBRAS, L1 do surdo devendo ser respeitada como tal.
Somado a isso, Quadros (1997a, p. 28) apud FARIAS cita ainda a declaração dos direitos humanos linguísticos, segundo a qual

[...] todos os seres humanos têm o direito de identificarem-se com uma língua materna e de serem aceitos e respeitados por isso; todos têm o direito de aprender a língua materna(s) completamente, nas suas formas oral (quando fisiologicamente possível) e escrita; todos têm o direito de usar sua língua materna em todas as situações oficiais (inclusive na escola); todos os utentes de uma língua materna não-oficial em um país têm o direito de serem bilíngües, isto é, o direito de terem acesso a sua língua materna e à língua oficial do país.

Para que se efetive o bilinguismo, faz-se necessário sujeitos conhecedores de ambas as línguas. De nada adianta que o surdo saiba a LIBRAS e mesmo assim esteja fora do contexto social no qual inevitavelmente está inserido. O bilinguismo deveria fazer parte do currículo de atividades das escolas, para que não fosse língua exclusiva dos surdos, mas que servisse como meio de comunicação entre surdos e ouvintes bilíngües. A partir desse conceito, poderia se pensar em inclusão.  
Quanto às formas de bilinguismo existentes em termos de educação de surdos, Quadros (1997a, p. 30) apud FARIAS cita duas configurações básicas: “uma delas envolve o ensino da segunda língua quase de forma concomitante à aquisição da primeira língua, e a outra caracteriza-se pelo ensino da segunda língua somente após a aquisição da primeira língua”. A linguista, no entanto, considerando Skutnabb-Kangas (1994), ressalta que a primeira forma depende da origem das duas línguas, ou seja, a aquisição da língua de sinais e o desenvolvimento da língua oral ocorrem paralelamente, “se a aprendizagem das duas línguas se der dentro da própria família com falantes nativos e/ou se a aprendizagem de duas línguas ocorrer paralelamente como necessidade de comunicação” (QUADROS, 1997a, p. 31).
Já Lacerda (2000) verifica a falta de preparo da comunidade escolar em relação ao aluno surdo e idealiza a escola na qual o aluno possa realmente estar inserido e ser compreendido em sua Língua através de intérprete. A pesquisa que levou á essa constatação se fez através de videogravações em uma sala de aula com uma criança surda, sem domínio do português falado e usuária da LIBRAS, mostrando-se desmotivada com as atividades inspiradas na língua oral. Segundo Lacerda (2000, p.80, 81), esse contato revela tensões, dificuldades de articulação, impasses – que não convergem, contudo, para um confronto, mas sim para ajustes, negociações e trocas que apontam para infinitas possibilidades de composição dentro do espaço educacional.
A educação de surdos continua apresentando muitas dúvidas a professores, alunos ouvintes, alunos surdos, pais... Contudo, a proposta de educação bilíngue, ou ainda, inclusiva, irá continuar dependendo do cumprimento de leis, melhor formação de professores, mais envolvimento da comunidade escolar, do contexto cultural e social. A partir dessas modificações, a tão aspirada educação passará de “tentativa” para “realidade”.


[1] Aluna do curso de pós-graduação lato sensu em Educação Especial e graduada em Letras-Licenciatura
[2] Professora orientadora


Para saber mais:
http://curtindolinguaportuguesa.blogspot.com.br/2012/01/alunos-com-necessidades-especiais.html

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

A LÍNGUA PORTUGUESA NA FACULDADE





















Resumo

O presente trabalho discute a importância da introdução de disciplinas relacionadas à Língua Portuguesa nos cursos de graduação do país, principalmente naqueles que não estão relacionados com a linguagem, para que haja profissionais mais bem preparados para o dia-a-dia de suas determinadas profissões. Mostrar que a Língua Portuguesa está presente em todas as áreas do conhecimento também é um dos objetivos deste artigo.Uma breve discussão sobre a profissão de professor e a relação dele com a Língua também será abordada. Com base em análises de algumas grades curriculares de alguns cursos, pretende-se concluir que poucas pessoas dão a devida importância para nossa Língua, e poucas delas têm a noção de que sempre precisarão dela para tudo o que forem realizar.
Palavras-chave: disciplinas; Língua Portuguesa; cursos de graduação; conhecimento.

Abstract

This paper discusses the importance of introducing subjects related to Portuguese Language in under graduation course in this country, especially in those not related to languages so that may better prepare professionals for the day-by-day of their occupations. Showing that Portuguese Language is present in every area of knowledge is also one of the objectives of this paper. A brief discussion about the teacher profession and its relationship with the language will also be approached. Based on analyses of varied curricula of some courses, it is likely to conclude that few people give due importance to our language and fewer fathom that there will always be the need of it for every activity that they may accomplish.
Keywords: subjects; Portuguese Language, undergraduate courses, knowledge.

Apresentação

O poder que o ensino possui é de total mérito àquele que o exerce da melhor forma possível: o professor; mas não é só o professor que constitui um ambiente de ensino, assim como Paulo Freire (1996, p. 12) afirma: “não há docência sem discência”. Há também os alunos, e estes possuem os mesmos direitos e deveres que o professor. Quando falamos de deveres do professor, falamos em boa didática e também em boa fluência na sua língua-mãe, neste caso a Língua Portuguesa. Assim como os alunos de todos os cursos, atualmente, têm a necessidade de saber utilizar bem a sua língua, o professor tem o dever de fazê-lo da melhor forma possível (por ser nativo na Língua e pela sua profissão que consequentemente é uma profissão influenciadora), mesmo que o curso no qual o professor leciona seja um curso da área de Exatas.
Desde os primeiros centros de ensino criados no Brasil, já havia a introdução de disciplinas relacionadas à Língua. Quando os primeiros jesuítas criaram os centros de ensino, já fundamentavam suas aulas na aprendizagem da Língua Portuguesa (Ghiraldelli, 1957).
Com relação ao pioneirismo de ensino no Brasil, só pode se lembrar do nome do Padre Manuel da Nóbrega, cujo plano de estudos incluía a doutrina cristã, o ensino da Língua Portuguesa e a “escola de ler e escrever”. Vários membros da Companhia de Jesus, que se oficializou em 1540, comandavam as principais instituições educacionais. Quando os jesuítas foram expulsos do Brasil, havia dezessete colégios e Escolas de Primeiras Letras funcionando. Após a expulsão dos jesuítas em1759, aeducação foi pela primeira vez organizada pelo Estado, com influências do Iluminismo. Era o tempo das “aulas régias”. Mas ainda assim, para concluir os estudos, os estudantes dirigiam-se para a Europa, até a criação das primeiras escolas de nível superior no país por volta de 1800 (GUIRALDELLI, 1957). Mas a primeira universidade criada no Brasil foi a UFAM (Universidade Federal do Amazonas), na época: Escola Universitária Livre de Manáos (UFAM, 2012).
Por meio deste trabalho pretende-se verificar a grade curricular de vários cursos de graduação e também verificar se estes estão introduzindo disciplinas de Língua em seus cursos.
O maior objetivo deste artigo é discorrer sobre a importância da Língua Portuguesa em todas as áreas do conhecimento, porque mesmo para uma pessoa da área de Ciências Exatas, por exemplo, ela se faz presente, seja na comunicação, na simples escrita de um e-mail, ou na própria interpretação de códigos/conceitos.
É preocupante ver as dificuldades que pessoas formadas, e até pós-graduadas têm com a Língua Portuguesa. Atualmente vemos até médicos, advogados, dentistas com dificuldades na hora de falar e escrever corretamente. É pensando neste atual problema que há no Brasil, que se pretende falar da importância da nossa Língua para tudo.
É importante também, ressaltar que em nenhum momento pretendemos dizer que a Língua Portuguesa é mais importante do que qualquer outro tipo de conhecimento, mas sim que ela também se faz necessária para simples realizações do dia-a-dia, assim como cálculos matemáticos etc. “E sabemos que aprender uma língua é também aprender a pensar…” (CATELA, 2010, p. 1).

  1.  A Língua Portuguesa nos Cursos de Graduação e a sua Importância

“Mas porque chegam os alunos ao ensino superior com uma limitação tão séria na língua de ensino?” (CATELA, 2010, p.1). Essa é a grande questão.
Como nossos profissionais encaram a Língua Portuguesa é um problema que vem antes da universidade. Quando eles saem da escola básica, subtende-se que eles já deveriam dominar as regras e normas da Língua culta, mas não é isso que acontece. Sendo assim, esse problema discutido nesse artigo, vem desde a formação primária e também da atual crise que enfrentamos na Educação. O fato é que os alunos que ingressam no ensino superior apresentam muitas dificuldades até mesmo ao se expressar.  Na leitura também há grandes problemas, assim como Guiraldelo (2006, p.120) diz: “O brasileiro geralmente lê para ser avaliado, testado, quase nunca por prazer [...]”.
Uma solução seria revolucionar o ensino básico, porém muitos pedagogos e especialistas no assunto veem tentando fazê-lo sem sucesso. E também, aqui, não temos este propósito: de tentar mudar o ensino no país, e sim de discutir soluções para tentar melhorá-lo. Uma possível solução seria aumentar a quantidade e a qualidade das aulas de Língua Portuguesa desde o Ensino Básico, mas as escolas, em geral, parecem não se preocupar muito com a causa.
A pergunta na qual se inicia este capítulo vem de uma mestra em Educação de Portugal. Isso nos mostra que os brasileiros não estão sozinhos. Seria esse um problema de todos os falantes nativos de Língua Portuguesa? Talvez a resposta seja encontrada em alguma aula de sociolinguística, onde o que prevalece não são as normas da Língua e sim a Língua falada, ou seja, assim como vários teóricos já citaram, um dos problemas da Língua, é que falamos diferentemente do que escrevemos criando assim um conflito para muitas pessoas e crianças que estejam aprendendo a escrever. Este fato “pode parecer estranho pois, grosso modo, todo brasileiro domina o português, porém numa situação de interação verbal que exija uma certa formalidade, geralmente, os alunos apresentam dificuldades.”(PARISSOTO, 2009, p.1).
“Quando o tema avança para o nível universitário, soa ainda mais estarrecedora a ‘constatação’ da suposta incapacidade do estudante.” (BRITTO; CAMARGO, 2011, p. 2). A partir dessa afirmação do autor podemos notar que realmente enfrentamos uma grande crise linguística também no Ensino Superior, constatando o que fora dito anteriormente.
O simples fato de incluírem algumas disciplinas como: Português Instrumental, Português, Língua Portuguesa, Técnicas de Redação, Coesão e Coerência, Comunicação e Expressão, Leitura e Produção de Textos etc., já qualificariam melhor os alunos de cursos superiores em geral.  Exercícios como resenhas, resumos, relatórios são grandes aliados na hora de treinar a escrita. Um aluno que teve a oportunidade de treinar bastante esses tipos de atividades em seu curso de graduação, obviamente se sairá melhor na hora de escrever sua monografia, ou mesmo um artigo científico e quem sabe um dia, uma tese de doutorado. O que podemos prever é que sem esses treinos o aluno se sentirá perdido e inseguro para escrever seus futuros trabalhos. Assim como quase tudo na vida, escrever também é uma questão de prática, quanto mais se faz, melhor se faz. “Dessa forma, torna-se imprescindível o desenvolvimento de habilidades voltadas à leitura, interpretação e produção de textos.” (PARISOTTO, 2009, p.1). Queremos salientar também a importância do aluno universitário ser colocado em contato com vários livros, pois a aquisição da norma culta ocorre também por meio da leitura. Assim como Câmara Jr. (apud GUIRALDELO, p. 31) diz “[...] cada um de nós tem de saber usar uma boa linguagem para desempenhar o seu papel de indivíduo humano e de membro de uma sociedade humana”. Sendo assim para ele a linguagem faz parte da construção do ser humano, e todos devem possuí-la, pois com ela, o indivíduo adquire o poder e a capacidade de argumentar.
 Com relação, ainda, à importância de “saber escrever” atualmente, Madaleno (2007) diz:
Dominar a norma culta da língua portuguesa está se tornando cada vez mais importante para o sucesso de profissionais de todas as áreas. No passado, quando diretores, superintendentes e gerentes podiam contar com uma secretária, a falta de domínio da língua portuguesa não era tão notada, afinal, quem precisava escrever corretamente era ela. Hoje isso mudou. Com as empresas cada vez mais "enxutas", muitas vezes os executivos ou não possuem ou precisam dividir a mesma assistente. Assim, obrigatoriamente tiveram que começar a escrever relatórios, preparar documentos e enviar e-mails. (MADALENO, 2007, p. 01).
 Dessa forma podemos concluir esta seção com essa fantástica afirmação, que é a mais pura verdade dos dias atuais.

 2. Verificando as Disciplinas de Alguns Cursos de Graduação do Estado de São Paulo

Talvez o problema da grade curricular da maioria dos cursos não conter a Língua Portuguesa como prioridade, esteja no estabelecimento das leis que o MEC divulga, pois atualmente só uma parte dos currículos dos cursos tem de seguir padrões, a outra parte é de acordo com cada universidade. Sendo assim, deveria haver um padrão para cada curso e um padrão para todos, como por exemplo, a implementação de disciplinas voltadas à leitura e à escrita, uma vez que (como já fora citado) o mau desempenho linguístico de alunos e de profissionais formados é visivelmente um problema.
Falando um pouco mais sobre isso Gama (2011, p.1) complementa: “[...] pode-se dizer que a falta de um ensino sistematizado dos gêneros acadêmicos é preponderante, pois os acadêmicos são muitas vezes cobrados em escrever o que nunca lhes foi ensinado.” Isso nos diz também que além de não ensinarem regras de escrita, ainda cobram os acadêmicos de algo que não fora ensinado, demonstrando mais uma vez a ineficácia de nossas estruturas.
Para completar, o português foi abolido da grade curricular de maior parte das universidades. Os alunos se habituaram a considerá-lo uma disciplina de menor importância, algo sem relação direta com a vida prática. Resultado: o jovem termina o segundo grau com deficiências graves e as carrega para a vida profissional. (MADALENO, 2007, p. 1).
 Levando em conta essas considerações, iremos analisar a matriz curricular de alguns cursos oferecidos por universidades brasileiras atualmente, a fim de verificar o quanto se ensina a Língua Portuguesa. É importante dizer que essas análises foram feitas a partir de informações contidas no site de cada universidade pesquisada.
Analisando o curso de Pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, encontramos apenas uma disciplina voltada à Língua: Leitura e Produção de Textos de Educação. Sendo assim, das cinquenta disciplinas presentes no curso, apenas uma tem relação com a escrita e com a leitura de textos. Isso mostra que, mesmo em um curso de Humanas de uma universidade renomada, não há a devida importância à linguagem. É importante salientar que, esse curso é um curso de formação de professores, ou seja, o curso irá formar pessoas que futuramente irão até alfabetizar crianças, com isso pensamos: De que forma esses futuros professores vão ensinar a Língua Portuguesa a seus alunos?
Já no curso de Engenharia Civil da mesma universidade não encontramos nenhuma disciplina relacionada à Língua Portuguesa ou a qualquer tipo de linguagem. No máximo há Administração e Ética, que são as disciplinas que mais fogem da área de Exatas.  Nesse curso há noventa disciplinas, e nenhuma voltada à leitura ou à produção de textos, sendo assim, estamos formando engenheiros de que nível? Do tipo que não sabe nem sequer redigir um simples e-mail, ou pior, que não sabem elaborar seu currículo e pedem ajuda a outras pessoas? E na hora em que uma entrevista de emprego pedir para que ele escreva um pouco sobre ele? E também podemos citar a hora em que ele for redigir seu projeto, como ele irá fazê-lo sem uma base linguística? Temos que começar a pensar nessas questões.
Guiraldelo (2006, p. 38) com relação à profissão de engenheiro ressalta que: “[...] a leitura — ao lado de outras competências — é uma habilidade fundamental na formação de um Engenheiro [...]”.
No curso de Nutrição da Universidade Paulista (UNIP) há cinquenta e oito disciplinas na grade curricular, dentre elas encontramos três ligadas à leitura e à produção de textos: Interpretação e Produção de Textos, Comunicação e Expressão, Língua Brasileira de Sinais (optativa). O fato de esse curso ter mais disciplinas linguísticas do que os outros, já é um bom começo, mas poderia ser melhor, com mais disciplinas em que o aluno pudesse exercitar a escrita, afinal o futuro nutricionista irá precisar dela para escrever dietas aos pacientes, por exemplo.
O curso de Direito, também da UNIP, oferece as mesmas três disciplinas que no curso de Nutrição. No entanto, para um advogado, essas três disciplinas dentre as setenta e sete oferecidas, são muito poucas. Um advogado tem que dominar seu idioma, assim como o médico, a anatomia humana, para que ele seja bem sucedido em seu trabalho. Além dessas três disciplinas, deveria haver mais, voltadas também à interpretação de textos jurídicos, por exemplo. Um advogado, ao decorrer de sua profissão, terá que montar processos etc, com isso se ele digitar uma palavra errada, ele pode até prejudicar seu cliente, ou então pode interpretar algo errado, por falta de prática com a Língua, que a faculdade deveria proporcionar a ele. Ainda falando do processo a ser montado pelo advogado, ele também tem de ser claro para o juiz poder interpretar e entender.
Já o curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Anhembi Morumbi, só possui uma disciplina ligada à leitura e produção de textos: Comunicação e Expressão, dentre as quarenta e nove oferecidas. Na hora desse aluno tentar elaborar o seu Trabalho de Conclusão de Curso, ele pode acabar (infelizmente) recorrendo aos diversos meios, como por exemplo, pagar para fazerem seu trabalho.
Ao analisar o curso de Farmácia da Universidade Anhembi Morumbi, encontramos cinquenta e três disciplinas e apenas uma voltada à Língua, a famosa e tão oferecida: Comunicação e Expressão. Com isso pensamos que, o aluno quando formado será um farmacêutico que talvez não saiba interpretar a bula do remédio por falta de treino de sua própria Língua.
Para concluir nossa pesquisa, resolvemos avaliar um dos cursos mais tradicionais do país: o de Medicina na USP (Universidade de São Paulo). Dentre as inúmeras disciplinas que o ingressante no curso irá enfrentar, não há nenhuma que fuja da ciência da saúde, dessa forma, não encontramos nenhuma disciplina relacionada à Língua Portuguesa no curso. Fato que pode até ser relevado, contando que, o aluno ingressante no curso enfrentou provas severas de avaliação em todos os campos do conhecimento, no entanto, uma disciplina de Língua, mesmo que voltada à área da saúde não seria ruim para os futuros médicos. Em um caso de uma doença nova, se este médico tiver que escrever um relato para um congresso, por exemplo, dos sintomas do paciente? Provavelmente ele terá certas dificuldades.
Após essa pequena pesquisa nos sites das universidades escolhidas, nota-se que grande parte das universidades adotou a disciplina: Comunicação e Expressão, para tentar sanar as dúvidas dos alunos com relação à Língua, como se, apenas esta resolveria o problema de muitos alunos.
Dentre as universidades pesquisadas, percebemos que a introdução de disciplinas que foquem a nossa Língua ainda é precária, porém parece que algumas instituições isoladas estão começando a introduzir o estudo de línguas em seus currículos.

3. Considerações finais

Podemos dizer que de uma forma geral, a educação sempre teve seus altos e baixos, porém mais baixos que altos, e assim segue até os dias de hoje. Há alguns anos que, além da estrutura escolar não estar adequada à sociedade de hoje, os professores e alunos também não se adaptam uns com os outros. O contexto atual resume-se em professores desatualizados, sem vontade de ensinar e em alunos que não querem mais aprender na escola, pois sabem que a internet também poderá lhes ensinar. Obviamente há exceções, porém são poucas.
Para que esse quadro mude há duas opções: ou o ensino básico melhora, com relação aos ensinamentos de Língua e a todos os outros, ou todos os cursos de graduação do país introduzem disciplinas voltadas à melhoria da comunicação seja ela verbal ou escrita.
A comunicação escrita está cada vez mais se fazendo necessária, com o aumento de e-mails trocados entre as pessoas. Cada vez mais é preciso dominar a Língua escrita, até em redes sociais é necessário, sendo assim qualquer profissional formado tem, ou teria o dever de dominar a Língua para uma melhor comunicação.
Disciplinas relacionadas à Língua Portuguesa deveriam ser incorporadas nas matrizes curriculares de todos os cursos de graduação, inclusive em todos os cursos de Ciências Humanas, pois assim o rendimento linguístico dos alunos melhoraria muito até na hora de escrever um simples e-mail ao chefe, por exemplo. Mas não basta ser incorporada uma disciplina dentre cinquenta, por exemplo, temos que criar várias disciplinas que foquem o estudo e a prática da Língua. Ao introduzir o aluno às aulas de interpretação de textos, por exemplo, estamos criando cidadãos com um senso crítico, ou seja, criamos seres pensantes, assim como desejou Paulo Freire (1996). Enfim, esse é apenas um exemplo benéfico de estudarmos mais a nossa Língua, claramente há outros tão espetaculares, quanto.
Para Guiraldelo (2006) todos os professores têm o papel de formar leitores, não só os de Línguas, mas todos, pois a leitura é um ato importantíssimo para a formação de qualquer profissional. “[...] Quem não lê — mais do que isso: quem não lê bem — não só sabe menos, como tende a aprender menos dentro e fora da escola [...]” (LAJOLO apudGUIRALDELO, 2006, p. 43).
Para finalizar, realçando nossa opinião por meio da Madaleno (2007, p. 2):
 Aqueles que cometem erros de português ao falar e não são capazes de escrever dez linhas gramaticalmente corretas e com clareza, passam aos outros uma péssima imagem de pessoa mal informada, de nível cultural baixo, que não lê. Ou seja, podem ser grandes especialistas em suas áreas de atuação, mas que provavelmente não poderão transmitir seus valores. 

  4. Referências Bibliográficas

Alfinito, Solange. Educação superior no Brasil análise do histórico recente (1994 – 2003). Brasília: INEP, 2007.
Camargo, Márcio J. P. de; Britto, Luiz P. L. Vertentes do ensino de português em cursos superiores. Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior (Campinas). Campinas. vol.16 no.2. Jul. 2011.
Disponível em:
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segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

A DISCIPLINA DE LITERATURA NO ENSINO MÉDIO E A (DE)FORMAÇÃO DO LEITOR





Bianca Buse
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Literatura
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Resumo
A Literatura, como disciplina, no Ensino Médio, não pode, ainda, ser encarada como uma aliada, de participação integral, na formação de leitores. O atual processo de leitura de Literatura não propicia um aproveitamento adequado da Literatura como fenômeno artístico, já que, muitas vezes, prioriza o ensino da história da Literatura ou o trabalho com fragmentos de obras literárias consideradas canônicas, não estimulando, dessa forma, o jovem estudante à prática da leitura. Diante dessa constatação, este estudo propõe uma estruturação diferenciada da introdução da disciplina de Literatura no Ensino Médio, iniciando pela leitura de textos contemporâneos, mais próximos à realidade dos alunos, numa proposta de “gradação textual”, objetivando o estímulo do hábito da leitura, visando à formação do leitor.
Palavras-chave: Ensino Médio; leitura de Literatura; formação do leitor; Literatura contemporânea.

A DISCIPLINA DE LITERATURA NO ENSINO MÉDIO E A (DE)FORMAÇÃO DO LEITOR

A leitura no Ensino Médio

Qual é o papel da disciplina de Literatura no Ensino Médio? Acreditamos que para se discutir a funcionalidade da Literatura nesse período escolar, antes, é preciso primeiro se definir o que se pretende com ela aqui. Seria apenas apresentar um panorama da história da Literatura aos estudantes? Sendo assim, a metodologia de ensino tradicional, que se foca na periodização literária, pode dar conta do recado. No entanto, se se espera mais desta disciplina, até pensando na questão social da formação dos alunos como cidadãos, a disciplina de Literatura deveria ter como premissa formar leitores críticos. E é acreditando nesta segunda possibilidade que este estudo se fundamenta e se desenvolve.
Já há bastante tempo vem se falando sobre a importância da leitura no desenvolvimento do aluno como cidadão e, em prol disso, inúmeros programas do governo têm contribuído para o incentivo à leitura (PROLER, PRÓ-LEITURA, PNBE – Plano Nacional de Biblioteca Escolar, PNLL – Plano Nacional do Livro e Leitura etc.), assim como também vem ocorrendo muitas pesquisas acadêmicas nessa área, objetivando estimular a formação do leitor.
Também é sabido que ler não é apenas decodificar símbolos; vai muito além disso, como nos aponta Villardi:
Ler é construir uma concepção de mundo, é ser capaz de compreender o que nos chega por meio da leitura, analisando e posicionando-se criticamente frente às informações colhidas, o que se constitui como um dos atributos que permitem exercer, de forma mais abrangente e complexa, a própria cidadania. (VILLARDI, 1999, p. 4)
E pensando nessa concepção de leitura, não podemos deixar de destacar a relevância do leitor neste processo. Com o desenvolvimento dos estudos da Estética da Recepção, o receptor do texto, o leitor, passa a ser visto como um elemento ativo no processo de leitura, como “o protagonista do ato de ler” (LOIS, 2010, p. 31), e o seu “horizonte de leituras” (JAUSS, 1994), seu conhecimento de mundo, é fator essencial na recepção da obra literária.
A sociologia da leitura também tem como objeto de pesquisa o leitor e considera que fatores sociais interferem no processo de formação do gosto da leitura, por exemplo. Para além da análise da recepção de textos literários, a sociologia da leitura trabalha com a leitura em si e com aspectos externos, como a circulação e o consumo de livros de acordo com o contexto social em que o leitor está inserido.
Este foco no leitor, seja com a Estética da Recepção ou com a Sociologia da Leitura, é de fundamental importância para compreendermos: que a leitura pode afetar (e ser afetada) diretamente o leitor; que o gosto pela leitura, assim como sua prática, podem ser entendidos como construções sociais; que o sujeito leitor tem a possibilidade de amadurecimento – individual e intelectual – com a prática da leitura; e que a leitura pode propiciar ao sujeito o desenvolvimento da sua visão crítica do mundo e seu estabelecimento como cidadão, como coloca Danielle Brito:
[...] é por meio da leitura que podemos formar cidadãos críticos, uma condição indispensável para o exercício da cidadania, na medida em que  torna o indivíduo capaz de compreender o significado das inúmeras que se manifestam no debate social e de pronunciar-se com sua própria voz,tomando consciência de todos os seus direitos e sabendo lutar por eles. (BRITO, 2010, p. 1)
Nesse sentido, e pensando na formação do leitor, fazemos aqui um recorte, optando por discutir essa questão no âmbito da escola, mais precisamente no Ensino Médio.
Infelizmente, a realidade do atual processo de leitura de Literatura que ocorre no Ensino Médio não estimula o jovem estudante para o desenvolvimento do hábito da leitura, tendo em vista que, muitas vezes, a disciplina de Literatura prioriza o ensino da história da Literatura e o trabalho com fragmentos de obras literárias, sem instigar a busca pelas diversas leituras que são permitidas ao texto literário, enquanto instrumento de pluralidade de significações.
Refletindo sobre o papel da leitura na escola e a importância da formação do aluno como leitor, entendemos que o professor deve compactuar com essa formação, buscando estimular a capacidade do discente de interagir com o conhecimento de forma autônoma, o que o beneficiará, depois, no cumprimento de seu papel de cidadão, conforme nos aponta Lena Lois:
Se a prática da leitura não está incorporada, o desenvolvimento da cidadania também fica comprometido. Se não se lê, não se pode aumentar o repertório  crítico. Sem a crítica, o poder de julgamento fica limitado e a capacidade de intervenção e inserção cultural, também. (LOIS, 2010, p. 19)
Visualizando a leitura como essa prática social, que possibilita o desenvolvimento do senso crítico e da autonomia, faz aqui uma ponte com a Estética da Recepção e com as referências de Jauss (1994), depreendendo que o processo de valorização do leitor, e de seu horizonte de expectativas (suas impressões e seu conhecimento prévio), é fundamental para a compreensão desse processo de leitura de Literatura.
Dessa forma, o efeito provocado pela leitura está vinculado ao conhecimento prévio do leitor, às suas experiências, e é isso que influencia a atualização da leitura de forma diferenciada entre os leitores, pois a recepção da obra não é igual para todos, já que suas histórias de vida também não são as mesmas. Depois de identificarmos a importância que a leitura tem no desenvolvimento do sujeito enquanto cidadão, e que esse leitor tem um papel essencial na Literatura, não podemos ignorar outro questionamento: como as aulas de Literatura, no Ensino Médio, têm contribuindo para a formação do aluno leitor? Para refletirmos a respeito disso, vamos entender, antes, como é o ensino de Literatura no Ensino Médio hoje.
O ensino de Literatura no Ensino Médio
Não é difícil perceber, hoje, seja em conversa com professores e alunos das mais diversas escolas ou analisando as pesquisas e estudos que se debruçam sobre a questão do ensino de Literatura e da leitura, que as aulas da disciplina de Literatura não são, geralmente, apreciadas por grande parte dos alunos do Ensino Médio, aliás, muito longe disso. Muitos desses discentes chegam ao Ensino Médio com uma certa aversão à leitura e à Literatura.
Para tentar entender esse resultado, devemos procurar verificar como tem se processado essas aulas de Literatura, muitas vezes na exigência de memorização de uma quantidade enorme de informações “literárias” (características de cada escola literária, dados biográficos de autores etc.), na insistência do confronto do aluno com obras literárias muito alheias à sua realidade e na transformação de uma obra de arte em um mero objeto de estudo.Com isso, não é difícil entender o motivo pelo qual os alunos de Ensino Médio rechaçam a disciplina de Literatura, entendendo-a como trabalho inútil. É fato que essa prática pedagógica não atinge, em absoluto, o interesse dos alunos e não acrescenta, significativamente, bagagem cultural a esses jovens.
É preciso sinalizar, também, que esse aluno do Ensino Médio, na maior parte das vezes, já não tem mais contato com o texto literário na íntegra, apenas com fragmentos que são usados como exemplos para a compreensão da gramática ou como modelo para exemplificar características de determinada escola ou gênero literário, como indica Todorov (2009), em A Literatura em perigo. Isso contribui ainda mais com o desinteresse do corpo discente pela leitura literária. E o autor assevera:
[...] o estudante não entra em contato com a Literatura mediante a leitura dos textos literários propriamente ditos, mas com alguma forma de crítica, de teoria ou de história literária. [...] Para esse jovem, Literatura passa a ser então muito mais uma matéria escolar a ser aprendida em sua periodização do que um agente de conhecimento sobre o mundo, os homens, as paixões, enfim, sobre sua vida íntima e pública. (TODOROV, 2009, p. 10)
Essa “escolarização da Literatura” e o despreparo do professor para uma nova concepção de trabalho de leitura afastam o estudante do caminho prazeroso da leitura literária.
E, nesse sentido, não podemos deixar de retomar aqui a reflexão de Rubem Alves a respeito do prazer da leitura:
[...] de tudo o que as escolas podem fazer com as crianças e os jovens, não há nada de importância maior que o ensino do prazer da leitura. Todos falam na importância de alfabetizar, saber transformar símbolos gráficos em palavras. Concordo. Mas isso não basta. É preciso que o ato de ler dê prazer.
As escolas produzem, anualmente, milhares de pessoas com habilidade de ler mas que, vida a fora, não vão ler um livro sequer. Acredito piamente no dito do evangelho: “No princípio está a Palavra...” É pela palavra que se entra no mundo humano. (ALVES, 2008, p. 61)
Portanto, não se deve imaginar a leitura da Literatura no Ensino Médio como um jogo de cartas marcadas, como apenas o cumprimento, página após página, do conteúdo programático apresentado pelo livro didático. Ao contrário, o estímulo à leitura deve ser uma constante, e sempre de forma a possibilitar que não seja um exercício de análise da mensagem subentendida, mas sim um passaporte para a viagem metafísica que o leitor tem direito a fazer (escolhendo o meio de transporte, a classe, a duração e sem destino predefinido). Conforme nos aponta Luzia de Maria, em seu livro O clube do livro: ser leitor – que diferença faz?, “conhecer a Literatura é ler a Literatura, não é decorar dados e datas a seu respeito” (MARIA, 2009, p.121).
Entretanto, também é preciso ter cuidado com as indicações de obras literárias, principalmente com relação à fixação destas escolhas apenas nos cânones literários. Já há vários estudiosos que apontam para uma abertura maior e mais flexível nessa escolha de títulos, não se fechando apenas entre obras clássicas. Afinal, toda leitura é válida neste momento de iniciação literária, como apontou José Mindlin, em No mundo dos livros:
[...] a leitura é um mundo de liberdade intelectual. É quase irrelevante que as primeiras leituras tenham, ou não, a assim chamada ‘qualidade literária’, embora obviamente quando a tiverem será preferível. A seleção vem com o tempo, o importante é que as pessoas adquiram o hábito de leitura (MINDLIN, 2009, p. 17).
Luzia de Maria diz não achar justo que se espere que estudantes que tiveram pouca ou nenhuma leitura de obras literárias comecem a ler pelas “obras-primas” (MARIA, 2009, p.45). E acrescenta:
[...] nenhum leitor nasce lendo Fernando Pessoa ou Guimarães Rosa. Até porque é preciso maturidade de leitor para apreciar os mestres. Prefiro ver um adolescente lendo, feliz, Harry Potter do que vê-lo sendo obrigado, pela escola, a ler um romance qualquer de Machado de Assis, por conta de ser seu centenário, e odiando, por tabela, qualquer leitura. (MARIA, 2009, p. 159)
Em se tratando de Literatura, o objetivo deve ser propiciar ao aluno o desenvolvimento da visão crítica do mundo e habilidade de leitor proficiente dos diversos gêneros representativos de nossa cultura. Porém, apesar de abrir novos horizontes, estimulando a formação crítico-participativa dos alunos, essa proposta, na maioria das vezes, não sai do papel ou do discurso.
E a grande pergunta que fica é: por que esse panorama do ensino da Literatura no Ensino Médio continua tão angustiante se a maior parte dos professores já tem consciência de todos esses dados levantados aqui? Por que eles ainda insistem em manter a metodologia tradicional de ensino da Literatura, partindo do estudo da periodização literária e fixando as leituras apenas em fragmentos de obras consideradas cânones literários?
Será que uma resposta para isso está na questão desse professor não ser efetivamente um leitor? Mas é possível conceber a ideia de um professor de Literatura não ser um leitor de Literatura?
E, neste ponto, entramos em uma questão bastante preocupante: como pode um professor ser formador de leitores se ele mesmo não é um leitor? Parte-se do pressuposto de que para formar leitores é preciso, antes, constituir-se leitor.
De acordo com Fabiane Burlamaque, diversas pesquisas com foco na questão da leitura no Brasil mostram que muitos professores são não leitores (BURLAMAQUE, 2006, p. 82) e isso é lamentável, pois “[...] a experiência leitora do professor é um dos componentes imprescindíveis no trabalho que ele desenvolverá em sala de aula com o objetivo de formar novos leitores literários” (BURLAMAQUE, 2006, p. 83).
A respeito desse assunto tão complexo, Luzia de Maria também traz sua reflexão:
[...] é necessário que o professor seja um leitor [...], um bom leitor. Que tenha uma rica bagagem de leitura. E aqui reside um dos grandes problemas da educação no país, acho que certamente o maior dos problemas: boa parte dos professores que saem das faculdades, formados nos cursos de letras ou pedagogia, ostenta um diploma de licenciatura, mas infelizmente não são leitores. [...] Enquanto os alunos-futuros-professores não construírem suas histórias de leitor, enquanto não enraizarem em suas vidas a leitura como prática emancipatória, a leitura como espaço de conhecimento e experiência, enquanto não se tornarem leitores autônomos, leitores plenos, pouca condição terão de formar leitores em suas salas de aula. Formar leitores deve ser prioridade, porque é uma questão estratégica para o desenvolvimento de um povo. (MARIA, 2009, p. 160-161, grifo nosso)
Como podemos pensar que um professor que não lê pode introduzir seus alunos nesse mundo literário? Como esse docente, não leitor, poderá orientar esse aluno que ainda não possui um repertório de leituras, que não tem referências e, portanto, não sabe por onde ingressar naquilo que, para ele, ainda é algo totalmente novo e fora de sua realidade? Para Maria (2009) “[...] um dos obstáculos para o sujeito começar a ler é justamente ele não saber por onde começar; é a angústia de chegar a uma livraria ou a uma biblioteca e não saber o que escolher [...]” (MARIA, 2009, p.17).
E o fato de não ser leitor irá afetar o compromisso desse professor em formar leitores em suas aulas:
[...] o professor que “escolhe” não ser um leitor da arte, um leitor de Literatura, reflete em sala de aula suas opções. Consequentemente, cairá em contradição quando cobrar de seu estudante um posicionamento leitor. O professor que não tem envolvimento com esse tipo de texto anuncia-se como um profissional distante da cultura e restrito à sua ação pedagógica. (LOIS, 2010, p. 76)
Esta questão de professor não leitor é muito inquietante; todavia, não se pode jogar toda a responsabilidade dessa postura não leitora exclusivamente nas costas dos professores como sendo apenas o resultado de uma escolha pessoal. É necessário investigar as causas desse ‘abandono’, buscar entender por que isso acontece e, ao mesmo tempo, procurar estabelecer meios de recuperação desse professor-leitor.
Dentre as inúmeras possibilidades de identificação das potenciais causas desse problema, destacamos: a deficiência já na formação desses professores, com grades curriculares de cursos universitários bastante ultrapassados e com a falta de foco na formação desse futuro professor como leitor literário; a falta de reconhecimento e valorização do profissional professor, o que acaba desmotivando o mesmo; a baixa remuneração que, em alguns casos, obriga o professor a ter um número de aulas muito grande, fazendo com que não disponha de tempo livre suficiente para seu aperfeiçoamento pessoal e profissional; a cobrança penosa de alguns processos seletivos de ingresso em universidades (o temido vestibular), que impõe conteúdos obrigatórios, ainda, ultrapassados ou sem valorização do papel social da leitura; dentre outras causas.
De fato, todo esse levantamento é real e influi de forma bastante negativa na constituição do professor leitor, entretanto, não se pode usar isso como desculpa ou amparo para se permanecer estagnado; é preciso, de alguma maneira, procurar lutar contra esses impasses, estabelecendo propostas que venham a contribuir com o grande objetivo aqui colocado: a constituição do professor leitor para buscar a formação de leitores.
E, além disso, é preciso também discutir o que se está lendo nas salas de aula do EM. E com qual objetivo se dão as escolhas dessas leituras: se são apenas para cumprir um programa didático ou se realmente visam à formação do leitor.
O cânone literário x estímulo à leitura no ensino médio – uma verdade que incomoda
Observando tantas pesquisas e trabalhos que veem sendo discutidos na academia a respeito da formação do leitor, uma inquietação sobre a leitura de Literatura no Ensino Médio desponta de forma acentuada: por qual motivo a Literatura brasileira contemporânea ainda não está no centro das leituras realizadas na escola?
Antes de nos fixarmos na análise do motivo que leva o professor a continuar trabalhando com uma estratégia didática já considerada ultrapassada, propomos uma breve reflexão a respeito do cânone literário.
O que enquadramos no conceito de cânone literário são obras de renomado valor estético e cultural de uma sociedade. Entretanto, esse conceito é muito amplo e também muito complexo, tendo em vista que teríamos que ter claros todos os critérios de atribuição de valor para então estabelecermos quais obras seriam consideradas clássicas, para cada sociedade analisada.
Italo Calvino, em Por que ler os clássicos, relaciona uma série de propostas de definição para os ditos clássicos e, dentre elas, pontua que “[...] são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram [...]” (CALVINO, 2007, p. 11). Ou seja, obras de valor atemporal.
Todavia, a questão do cânone literário traz muitas controvérsias, principalmente se formos entrar na discussão de como foram estabelecidos os critérios de inclusão (ou exclusão) de obras literárias nessa classificação.
Não estamos sugerindo, de forma alguma, a renúncia do cânone (é evidente a sua importância), no entanto seria interessante repensar sua abertura, estabelecendo parâmetros menos centralizados, procurando respeitar a diversidade e as diferentes tradições literárias.
Já se sabe que a leitura dessas obras clássicas da Literatura na escola, em determinados momentos, pode deixar de interessar o aluno pelo seu distanciamento tempo/espaço na relação obra/leitor. O jovem, geralmente, identifica-se melhor com textos que trazem algo de sua realidade, pois assim a leitura vai ao encontro de suas experiências, e, por isso, apostamos num trabalho de introdução da disciplina de Literatura no Ensino Médio a partir da leitura de textos contemporâneos.
Uma aposta na Literatura contemporânea
Numa possibilidade de melhorar esse contexto, visando à formação de leitores, acreditamos que a leitura será benquista pelos alunos se os textos se relacionarem, de alguma forma, com a realidade que os cerca, e com seus interesses. Uma vez que consiga se reconhecer e reconhecer “seu mundo” nas leituras propostas pela escola, o aluno poderá encontrar a motivação necessária para vir a se tornar um leitor e, assim, as leituras realizadas poderão agregar mais conhecimento à sua vida, como Gizelle Corso e Josiele Ozelame comentam: A leitura de textos por lazer/prazer permite que os alunos estabeleçam relações com outras áreas do conhecimento, extraindo diferentes conteúdos, fazendo diversas conexões a partir de suas experiências do dia a dia. (CORSO; OZELAME, 2009, p. 72)
Pensando nisso, uma proposta fundamentada na Estética da Recepção poderia introduzir esse aluno, no mundo literário, de uma maneira gradativa, primeiro estabelecendo uma relação com o horizonte de expectativa do discente, fazendo uso de textos com temática e linguagem mais próximas de sua realidade, para depois, aos poucos, ir ampliando seu repertório.
Nessa mesma perspectiva, José Luís Jobim aposta numa espécie de “gradação textual” como método de inserção da Literatura na vida escolar, de forma a fazer com que o aluno se sinta mais à vontade com os textos e possa, gradativamente, ir aperfeiçoando e alargando seu horizonte de leituras:
A introdução do texto literário em classe deve sempre ter em conta o universo dos seus receptores, estabelecendo, se for o caso, uma “gradação textual” para trazer ao público estudantil primeiramente o que for mais fácil para ele, para depois, paulatinamente, chegar ao mais difícil [...] a partir do momento que despertamos a atenção do educando para a Literatura, a partir de textos mais “fáceis”, poderemos, com melhor efeito, introduzi-lo no mundo das linguagens mais “difíceis” (por exemplo, a do Barroco), ou no mundo dos temas que não fazem parte (ainda) de seu universo. (JOBIM, 2009, p. 117)
O dia a dia da sala de aula, principalmente na disciplina de Língua Portuguesa/Literatura, pode ser tornar notoriamente desestimulante e massacrante, tanto para o aluno, como para o professor, se não houver a insistência diária no desenvolvimento de um processo ensino-aprendizagem mais interativo e estimulante.
O professor precisa sempre buscar novas alternativas de ensino e de inserção do conteúdo aplicado no mundo real para que o aluno possa se motivar com as quebras de rotinas e entender a importância do estudo para o seu desenvolvimento enquanto cidadão.
A partir de toda essa reflexão, nossa sugestão, então, é que o professor inicie o trabalho com a Literatura a partir da leitura de textos contemporâneos, que estejam mais próximos à realidade dos alunos, evitando, assim, aquele bloqueio inicial que se cria ao apresentar a Literatura ao estudante a partir de textos do trovadorismo, classicismo, barroco etc. Fazendo um caminho contrário, partindo do mais contemporâneo, esse professor pode vir a conquistar o aluno e, após certa maturidade de leitura, este terá bagagem para ler uma obra clássica, compreender e apreciar, ou renegar, mas já com argumentos sólidos para isso. Mas para tanto, é imprescindível que o professor abandone o preconceito destinado a ‘certos tipos’ de leitura, como coloca Heloisa Seixas, em O prazer de ler (2011):
Não se deve ter preconceito quando um jovem manifesta interesse por um tipo de livro. Qualquer livro é melhor do que livro nenhum. Um exemplo: a crença de que jovens se assustam com “livros grandes”, com muitas páginas, foi por água abaixo quando começou o fenômeno Harry Potter. Pode quem quiser falar mal do bruxinho inglês, mas a verdade é que ele fez muitos meninos e meninas perderem o medo de ter na mão um livro de trezentas páginas ou mais. Isso é um feito.(SEIXAS, 2011, p. 9, destaque do autor)
Depois desse primeiro contato literário, pressupondo uma maior aproximação do aluno com a Literatura, sem os bloqueios causados pela tentativa enfadonha e maçante de iniciar esse estudo pela mera apresentação de informações da periodização literária, acredita-se que o aluno terá maior receptividade com outros textos literários, uma vez que já terá uma certa intimidade.
A partir desse momento de amadurecimento como leitor, o aluno já terá condições de ler, compreender e apreciar outras obras literárias, consideradas por ele, a princípio, mais complexas e, dessa maneira, estabelecer as relações necessárias para o entendimento da história da Literatura, verificando que não existe uma separação, propriamente dita, da obra, do autor e do contexto histórico-social, tendo em vista que eles se complementam na análise literária.
Todas essas mudanças são válidas e possíveis, entretanto exigem um repensar geral no ensino da leitura da Literatura. Regina Zilberman (1988) mostra que a escola tem poder para promover essas mudanças e fazer da leitura um instrumento de libertação dos leitores.
E findando esta proposta de reflexão a respeito da formação de leitores no Ensino Médio, trazemos aqui uma citação bastante pertinente, da Professora Tânia Ramos, para pensar o trabalho com a Literatura contemporânea em sala de aula: O espaço da Literatura contemporânea é aquele onde o professor mais do que nunca tem que se comportar como leitor. Ele não tem como se valer (ou se repetir) de uma fortuna crítica canônica e canonizadora. Mas ele tem como tentar exercer a sua força interpretadora e o seu potencial criativo no salutar exercício da leitura inaugural. O professor diante de um texto contemporâneo tem, ele mesmo, que responder à esfinge: decifra-me ou te devoro. (RAMOS, 2002, p. 27)

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SEIXAS, Heloisa. O prazer de ler. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2011.
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