quarta-feira, 18 de abril de 2018

CONTO CONTEMPORÂNEO (CAPÍTULO 15)





O conto é uma das formas contemporâneas de prosa literária mais difundidas e aceitas. Há um sem-número de novos contistas e o gênero parece multiplicar-se em novos subgêneros cujas regras de formação estão mais ligadas à sua extensão que, propriamente, a uma mudança estrutural maior - como os chamados minicontos, microcontos ou ainda os twittercontos. Longe de ser apenas um texto em prosa mais curto que um romance, o conto é marcado por sua grande concentração narrativa, que faz dele um retrato de momento extraído da história de um único personagem, central à narração e de cujo ponto-de-vista a história é apresentada.

Há, contudo, uma característica que é própria dos contos contemporâneos - sua ressonância final. Se nos contos folclóricos ou tradicionais há um final bem definido, uma solução do conflito retratado na história - o que também se pode observar nos contos policiais -, no conto contemporâneo não há, necessariamente, tal resposta final - pois, não raro, ele apresenta uma situação sem solução, seja por ser impossível encontrar uma saída, seja por sua ambiguidade. Tal característica dos contos contemporâneos parece refletir o momento atual da sociedade, no qual os valores universais e as verdades absolutas já não são aceitos e a indefinição parece ser o regime...

O conto contemporâneo deixa, ao final, uma ressonância - algo que irá surgir no leitor a partir das conexões entre o mundo apresentado pela literatura e o mundo que ele observa em seu cotidiano. Tais conexões não são nunca diretas, absolutas. Talvez por isso o conto contemporâneo mereça tantos debates e renda tantas interpretações. Nada ali é definitivo e o efeito é fazer o leitor ampliar seus horizontes interpretativos.

Para a construção dessa ressonância, o escritor deve estabelecer conexões entre a história e um contexto mais amplo, não raro se valendo de símbolos e intertextualidades para sugerir ao leitor caminhos interpretativos. Isso funcionará com maior ou menor efeito quanto mais universal for o conflito estabelecido na história. Toda a caracterização do contexto - espaço, tempo, personagens, etc. - pode apontar para um local ou época específicos, mas o conflito precisa remeter a algo que a experiência humana abarque em qualquer ambientação. É essa identificação do leitor com a situação ali retratada que fará o conto ressoar e deixar sua marca permanente na alma de quem lê.

*Texto de Robertson Frizero - escritor, professor de Criação Literária e Mestre em Letras pela
 PUCRS.




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