O conto é uma das formas contemporâneas de prosa literária
mais difundidas e aceitas. Há um sem-número de novos contistas e o gênero
parece multiplicar-se em novos subgêneros cujas regras de formação estão mais
ligadas à sua extensão que, propriamente, a uma mudança estrutural maior - como
os chamados minicontos, microcontos ou ainda os twittercontos. Longe de ser
apenas um texto em prosa mais curto que um romance, o conto é marcado por sua
grande concentração narrativa, que faz dele um retrato de momento extraído da
história de um único personagem, central à narração e de cujo ponto-de-vista a
história é apresentada.
Há, contudo, uma característica que é própria dos contos
contemporâneos - sua ressonância final. Se nos contos folclóricos ou
tradicionais há um final bem definido, uma solução do conflito retratado na
história - o que também se pode observar nos contos policiais -, no conto
contemporâneo não há, necessariamente, tal resposta final - pois, não raro, ele
apresenta uma situação sem solução, seja por ser impossível encontrar uma
saída, seja por sua ambiguidade. Tal característica dos contos contemporâneos
parece refletir o momento atual da sociedade, no qual os valores universais e
as verdades absolutas já não são aceitos e a indefinição parece ser o regime...
O conto contemporâneo deixa, ao final, uma ressonância -
algo que irá surgir no leitor a partir das conexões entre o mundo apresentado
pela literatura e o mundo que ele observa em seu cotidiano. Tais conexões não
são nunca diretas, absolutas. Talvez por isso o conto contemporâneo mereça
tantos debates e renda tantas interpretações. Nada ali é definitivo e o efeito
é fazer o leitor ampliar seus horizontes interpretativos.
Para a construção dessa ressonância, o escritor deve
estabelecer conexões entre a história e um contexto mais amplo, não raro se
valendo de símbolos e intertextualidades para sugerir ao leitor caminhos
interpretativos. Isso funcionará com maior ou menor efeito quanto mais
universal for o conflito estabelecido na história. Toda a caracterização do
contexto - espaço, tempo, personagens, etc. - pode apontar para um local ou
época específicos, mas o conflito precisa remeter a algo que a experiência
humana abarque em qualquer ambientação. É essa identificação do leitor com a
situação ali retratada que fará o conto ressoar e deixar sua marca permanente
na alma de quem lê.
*Texto de Robertson Frizero - escritor, professor de Criação
Literária e Mestre em Letras pela
PUCRS.
para saber mais: http://sapereaudelivros.blogspot.com.br/2013/05/o-conto-contemporaneo-e-sua-ressonancia.html
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