AVLPL – ACADEMIA VIRTUAL DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA
Acadêmico Imortal: José Carlos de Arruda
Cadeira: 01
Patrono: J. G. de Araújo Jorge
Postagem Extra para “Dia das Mães”: 13/05/2023
A PARTIDA
In
memorium
15 de
junho de 2008
Minha querida madrinha, aqui estou diante do seu corpo para dizer a
senhora, que hoje, fiz questão de ser o primeiro a chegar para que pudesse
diante de vós admira-la pela última vez. E corajosamente olhar bem no fundo da
sua alma e convicto da minha condição de encarnado suplicar que me perdoe por
todos os meus erros, pelas imperfeições que a matéria aqui na vida terrena é
capaz de produzir. É a senhora sabe, nós somos tão pequenos que nem percebemos
o quanto um filho causa tristeza a sua mãe quando a magoa, mesmo que esta mágoa
tenha sido causada involuntariamente. É muito dolorido, mas só se percebe estas
nuances quem tem um pouco de sensibilidade.
Minha
madrinha, tanto eu tinha para lhe dizer, mas a falta de coragem juntamente com
o orgulho me impediram de fazê-lo. Queria tê-la dito tudo isso enquanto a
senhora estava entre nós. Não faço isso somente por fazer, mas para que me
sinta mais leve e para que a senhora possa ¨partir¨ em paz. Perdão por tudo de
mau que te causei, hoje tenho certeza que não fiz por mau. Perdão pela palavra
áspera que te feriu como um espinho fere a flor.
Perdão pela ignorância de não tê-la compreendido
na magnitude que o teu coração merecia. Perdão por tudo de errado que fiz ao
longo de nossa convivência. Gostaria de tê-la abraçado e de beijar-te suavemente a face como o fiz
diversas vezes e de tomar a sua bênção também. Nunca deixei de reconhecer-te
como a melhor madrinha do mundo, e que tudo fez de possível e impossível para
me ajudar.
Sei que nesta hora de dor nem sempre podemos mostrar
todas as vertentes de nossas palavras nem de nossos sentimentos, porém não
custa tentar. E, nesta tentativa de recuperar o tempo perdido, o tempo que
queria dizer e não disse, aqui estou, diante de vosso corpo inerte, mas o
espírito certamente me ouvindo e me entendendo. Nesta sala fria que deixa o
silêncio doer de tão sério, neste vento que sopra do lado de fora fazendo o véu
que encobre o teu rosto sereno levemente se mexer e dobrar-se caprichosamente
sobre corpo coberto de flores, e que te peço encarecidamente, perdão mais uma
vez, e que em sua caminhada por sua nova vida nunca deixe desamparado o teu
filho que nunca irá te esquecer.
Após a
oração, feita ainda na sala do velório e depois que o caixão desceu a escada
para ser conduzido, quando caminhávamos por entre as árvores e os mistérios que
cercam todo campo santo uma ventania se fez sentir e logo podemos observar uma
quantidade de folhas pelo chão. Descanse em paz e faça-se escrito o seu nome
por toda a eternidade. Lúcia Helena, minha madrinha, mãe, titia, amiga,
conselheira, tudo.
JOSÉ CARLOS DE ARRUDA
Professor e Escritor
Rio de Janeiro/RJ -
Brasil
Direitos Reservados, Lei 9.610 de 19/02/1998
(conforme artigos 28 e 29).
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